A produção de açúcar na Índia enfrenta um revés significativo nesta temporada, com chuvas fracas afetando a área plantada e potencialmente forçando o país a importar açúcar pela primeira vez em sete anos. Um estudo da Reuters com traders e agricultores indica uma queda prevista de 12% na produção durante a safra atual, criando preocupações sobre a possibilidade de a Índia não atender à demanda interna. Este cenário é agravado pela previsão de uma nova redução de 8,4% na safra 2024/25.
As expectativas sombrias baseiam-se na produtividade decrescente nos principais estados produtores, Maharashtra e Karnataka. A baixa nos níveis dos reservatórios nesses estados, responsáveis por quase metade da produção de açúcar da Índia, levou os agricultores a optar por culturas de menor consumo de água, como sorgo e grão-de-bico, segundo revelou uma pesquisa da Reuters com mais de 200 agricultores.
Esses indicativos se alinham às previsões dos traders, que apontam para uma redução na produção nesta safra e na seguinte, enquanto o consumo interno de açúcar deve aumentar. Esse cenário coloca a Índia, um dos principais fornecedores globais de açúcar, na iminência de se tornar um importador líquido já no primeiro semestre de 2025, revertendo seu papel como exportador expressivo nos últimos anos.
A incerteza sobre a colheita atual, abaixo das expectativas, e a perspectiva de a Índia precisar importar açúcar pela primeira vez desde 2017 ameaçam elevar os preços globais, impactando o mercado mundial, onde o Brasil poderia se destacar como o principal exportador.
Os efeitos do clima adverso também são sentidos diretamente pelos agricultores, como Ashok Shinde, do distrito de Solapur, Maharashtra, que foi forçado a plantar sorgo devido à escassez de água para a cana. Outros agricultores em distritos-chave enfrentam dilemas semelhantes, reduzindo ou abandonando o cultivo de cana em meio à falta de água para irrigação.
Os prognósticos para a produção de açúcar da Índia refletem uma possível queda para 29 milhões de toneladas nesta temporada, diminuindo para 26,6 milhões de toneladas no próximo ano. Estas previsões consideram uma possível elevação na produção de Uttar Pradesh, que possui melhores condições de irrigação.
Essa situação de produção em declínio coloca a Índia numa posição desconfortável, considerando a habitual exportação de açúcar nos últimos anos. A provável reversão para importações, em um mercado interno com preços substancialmente abaixo dos valores mundiais, pode impactar as políticas do governo e ter implicações econômicas significativas no país, principalmente em um período pré-eleitoral para o primeiro-ministro Narendra Modi.