A semana começa com a lentidão típica de segunda-feira nos negócios, sem muitas pontuações capazes de alterar a linha de momento. O cenário é de uma redução nas ofertas feitas pela arroba do boi gordo no estado de referência, São Paulo, causada por uma oferta de animais que segue expressiva, proporcionando uma escala de abates que começa a semana com 23,5 dias (os valores acabam cedendo, também, nas demais praças). Também, infelizmente, preciso observar, além do consumo interno ficar prejudicado por uma franca competição com a carne de frango, os embarques de carne bovina em julho foram os mais baixos para o mês desde 2019 e com uma queda intensa no valor da tonelada de carne bovina.
O primeiro parágrafo é um resumo do momento desafiador. Alguns estados têm sinalizado maior disponibilidade de animais para o abate, as pastagens estão bem “sofridas” no Centro-Sul do País. Ontem mesmo, conversava com alguns colegas da pecuária em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e região de Presidente Venceslau/SP. Os relatos mostram o peso da estiagem e o forte calor que impacta a região, em um inverno atípico nas temperaturas (muito altas), mas dentro do esperado, quanto ao nível e umidade e precipitações chuvosas. Neste contexto, quem tem animais prontos, coloca para vender. Não tem jeito.
A depender da fonte de informação para cotações, o pecuarista vai perceber que houve uma igualdade de preços na arroba do boi gordo em São Paulo e Mato Grosso do Sul. A causa é uma escala de abate mantida acima de 20 dias no estado de referência. Mesmo assim, as escalas são altas em outros estados também. No MS há 8,2 dias de trabalho; Mato Grosso 18 dias; Goiás 10 dias e Minas Gerais 10,5 dias. Este cenário tem sua manutenção por haver animais disponíveis para abate, mas não mudam também por conta do escoamento interno estar muito lento e também, a perda de ritmo nos embarques. Veja a seguir.
No artigo da semana passada eu comentava sobre a forte concorrência com a carne de frango no mercado consumidor interno. Nada mudou, a oferta segue firme e com preços mais acessíveis, mantendo a pressão na carne bovina. Somado ao fato, temos sinalizações preocupantes do mercado externo. Os embarques brasileiros de carne bovina in natura, de todos os tipos, totalizou 160,80 mil toneladas, 3,88% menor do que o volume exportado no mesmo mês ano passado e 16,57% inferior a junho de 2023, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior. Considerando a série histórica, o menor volume enviado ao exterior desde 2019.
Como se não bastasse, o preço da tonelada embarcada despenca quando comparado ao mesmo período do ano passado e ficou em US$ 4.740,31. Trata-se de uma redução de 27,62% comparado a julho de 2022 e, principalmente, o menor valor desde o mês de março de 2021. Os motivos fogem do controle da cadeia produtiva da carne bovina brasileira, passam pela recessão econômica em muitos países ou, o risco dela, as duas principais economias do mundo passam por isso (Estados Unidos e China), inflação elevada, taxa de juros altas e até mesmo a elevação da produção de outras proteínas, como a de suínos na China.
O momento é de buscar redução de custos e janela melhor de vendas. Estamos de fato em cenário de recomposição, ressentido por quase toda a cadeia produtiva, mas, principalmente, pelo pecuarista.