A indústria brasileira de alimentos e bebidas registrou aumento de 16,6% no faturamento e de 2,5% na produção em 2022 em relação a 2021. No ano passado, a receita do setor chegou a R$ 1,075 trilhão, somando exportações e vendas para o mercado doméstico. Esse resultado representa 10,8% do PIB nacional. Do faturamento total, o setor de alimentos contribuiu com R$ 898,4 bilhões e o de bebidas, com R$ 177,0 bilhões.
Em termos reais, descontada a inflação, as vendas do setor avançaram 3,7%. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 9, pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) em coletiva de imprensa. A indústria de alimentos processa cerca de 58% da produção agropecuária brasileira, de acordo com a Abia.
"É a primeira vez que ultrapassamos R$ 1 trilhão em faturamento, e isso mostra um cenário superpositivo porque 72% desse valor vem do abastecimento do mercado interno e apenas 28% são oriundos de exportação. A indústria brasileira de alimentos tem mostrado, cada vez mais, que não somos apenas o celeiro do mundo, mas somos o supermercado também, contribuindo para a segurança alimentar global", afirmou o presidente do Conselho Diretor da ABIA, Gustavo Bastos.
O aumento do faturamento da indústria deve-se ao crescimento de 14,3% da receita no mercado doméstico e de 30% nas vendas externas. As vendas para o mercado interno representam 72% do faturamento da indústria e geraram R$ 770,9 bilhões em 2022, segundo a Abia. Do total, R$ 563,7 bilhões vieram do varejo alimentos e R$ 208 bilhões do food service.
O aumento doméstico foi puxado pelo setor de food service, que respondeu por 27% das vendas locais da indústria em 2022 ante 26,4% em 2021. "As vendas da indústria para o food service, em termos reais, cresceram 9,8% em relação ao ano de 2021 (descontada a inflação acumulada em 12 meses do grupo de alimentação fora do lar do IPCA-IBGE, de 7,5%). O processo de fortalecimento do canal food service continuará ao longo dos próximos anos", afirmou Bastos.
De acordo com o executivo, apesar da restrição pela aceleração da inflação em 2022, as vendas da indústria de alimentos para o varejo alimentar brasileiro avançaram 1,7% em termos reais.
As exportações, que representam 28% do faturamento da indústria, cresceram 30% e atingiram o patamar recorde de R$ 304,4 bilhões. De acordo com a Abia, o Brasil permaneceu no posto de segundo maior exportador de alimentos industrializados do mundo, com 64,8 milhões de toneladas vendidas para 190 países em 2022, com destaque para proteínas animais, açúcares, farelos, óleos e gorduras.
"Ao longo de 2022, o crescimento da economia mundial, apesar da desaceleração no ritmo observado em 2021, continuou estimulando o consumo de alimentos, fator que, combinado com a taxa de câmbio favorável, contribuiu para a expansão das exportações brasileiras de alimentos industrializados", explica o presidente executivo da associação, João Dornellas.
A Abia acrescenta que, além das conjunturas políticas e econômicas nacionais e internacionais, o desempenho do setor pode ser atribuído em parte também ao investimento de R$ 23,6 bilhões, cerca de 2,2% do faturamento total da indústria de alimentos, na expansão de plantas fabris, pesquisa e desenvolvimento, fusões e aquisições, compra de máquinas e equipamentos. Em relação à geração de emprego e renda, a indústria alimentícia criou 58 mil vagas diretas em 2022, 3,4% a mais que em 2021, totalizando 1,8 milhão de empregos diretos.
Dornellas cita entre os desafios enfrentados pela indústria brasileira em 2022 as pressões generalizadas nos custos de matérias-primas agrícolas, energéticas e embalagens, movimento que foi intensificado pelo conflito na Europa, e a inflação elevada, que contingenciou a expansão da renda da população.
Ele pondera, contudo, que, apesar da redução no ritmo, a continuidade do movimento de recuperação da economia brasileira e mundial contribuiu para a expansão da produção e das vendas da indústria brasileira de alimentos nos mercados interno e externo.
Pressão
A Abia destacou que a elevação dos preços das commodities agrícolas teve um impacto relevante no custo de produção dos alimentos industrializados no ano passado. Segundo a Abia, além da alta das commodities agrícolas, a indústria alimentícia enfrentou aumentos de 25% (diesel) a 30% (gás natural) nos combustíveis, de 30% no custo de aquisição das embalagens. Esses aumentos geraram uma alta de 15% no custo industrial de produção de alimentos, acima da inflação acumulada no ano do grupo alimentos e bebidas do IPCA-IBGE, de 12,0%, aponta a Abia.
Segundo a entidade, matérias-primas, embalagens e energia representam, juntas, 60% do custo de produção do setor. "Do lado da oferta, o conflito entre Rússia e Ucrânia, a partir de fevereiro, acentuou as rupturas nas cadeias globais de suprimentos iniciadas com a pandemia, o que elevou a pressão sobre a disponibilidade e os preços de matérias-primas agrícolas, energéticas (petróleo, gás, biodiesel) e demais insumos (fertilizantes), commodities com preços formados no mercado internacional, com impactos diretos sobre os custos de produção e preços dos alimentos no Brasil e no mundo", acrescenta Dornellas.
No País, os efeitos adversos da estiagem no Sul no início no ano, que reduziu a safra de soja, somados à restrição de oferta e aos preços elevados de insumos pressionaram os custos do setor - caso do leite e demais proteínas animais. Por outro lado, as safras recordes de trigo e a segunda maior de milho melhoraram a disponibilidade interna desses grãos e contribuíram para a acomodação dos preços no último trimestre do ano.
Da redação, com Estadão Conteúdo