O valor do litro do leite pago ao produtor fechou 2021 em queda de 9,4% frente ao ano de 2020, avaliou pesquisadores do Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada (Cepea). Na “média Brasil”, o valor pago ao pecuarista fechou dezembro passado em R$ 2,1210 em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de dezembro/21). Já com relação a novembro de 2021, a queda no preço significou 3,7%.
Segundo o levantamento do Cepea, 2021 foi um ano de altos patamares de preços do leite no campo, porém, de rentabilidade baixa para o produtor. “Para a indústria, 2021 será lembrado pela dificuldade de repassar a valorização da matéria-prima aos derivados, visto que a perda do poder de compra do brasileiro freou a demanda por lácteos”, afirma as pesquisadoras de Leite do Cepea Natália Grigol e Juliana Santos, autoras do levantamento.
Pesquisa do Cepea (ainda em desenvolvimento) mostra que na “Média Brasil” o valor do litro pago ao produtor neste início de 2022 deve permanecer próximo aos praticados em dezembro de 2021. Com relação à produção, os efeitos do fenômeno La Niña, com fortes chuvas no Sudeste e estiagem no Sul, devem impactar diretamente a captação do volume do lácteo nos próximos meses, já que a baixa qualidade das pastagens prejudica a alimentação do rebanho.
Com relação aos custos de produção, para 2022 a previsão é de que esses devem permanecer pressionando as margens de ganhos dos pecuaristas. Embora as expectativas dos preços dos grãos sejam um pouco mais baixos, gastos com fertilizantes, suplementos minerais, combustível e energia devem permanecer elevados.
“Esse cenário pode continuar reduzindo investimentos produtivos, como já ocorreu em 2021, limitando ainda mais o potencial de crescimento da atividade”, afirma as pesquisadoras.
O levantamento de leite do Cepea também mostra que “quanto à relação de troca do leite com o milho, de janeiro a dezembro, foram precisos 42,5 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg de milho, frente a 34 litros no mesmo período de 2020, recuo de 24,8% no poder de compra do pecuarista. Com relação às importações de lácteos, os patamares elevados da moeda norte-americana podem limitar as aquisições em 2022, como ocorreu no ano anterior, tornando a oferta de leite mais enxuta”.
Demanda
O cenário macroeconômico mostra um ano mais desafiador com relação à demanda, uma vez que ela será fortemente afetada pelo poder aquisitivo do consumidor final, sobretudo para os produtos com maior valor agregado. Entre os desafios estão o alto patamar de desemprego, elevações da inflação e da taxa de juros e o maior endividamento das famílias.
De acordo com o levantamento divulgado pelo Cepea, de janeiro a dezembro de 2021, as médias de preços de leite UHT e queijo muçarela aumentaram tímidos 0,6% e 0,4% frente a 2020, respectivamente. “O enfraquecimento da demanda limitou o repasse da valorização dos preços no campo aos produtos lácteos, que apresentou ligeiro aumento de 2020 para 2021, resultando em margens espremidas para as indústrias de laticínios”, mostra o estudo.
Já nos preços praticados para o leite em pó (400g), houve valorização real de 7,1% em 2021.
“Assim, em um contexto de competição acirrada tanto para a compra de matéria-prima quanto para a venda de lácteos em 2022, a cadeia produtiva em geral terá um ano desafiador que pode frear investimentos no setor”, avaliam as pesquisadoras.
Da Redação.