Manejo eficiente no embarque e transporte contribui para a qualidade da carne

Planejamento reduz estresse e lesões, favorecendo o bem-estar animal e melhorando o produto final

André Luiz Casagrande
19/09/2025 10h15 - Atualizado há 3 dias
Manejo eficiente no embarque e transporte contribui para a qualidade da carne
Foto: Divulgação / Gov.br

O embarque de animais para o transporte até o frigorífico exige planejamento cuidadoso para que a qualidade da carne não seja comprometida. Ambiente tranquilo, equipe treinada, veículo adequado e condução correta são fatores que contribuem tanto para um produto final de melhor padrão quanto para a manutenção da rentabilidade da fazenda.

Por ser considerada parte essencial e que demanda gestão assertiva, o transporte de bovinos é uma etapa importante e precisa ser planejado para que ocorra de maneira tranquila e segura. Quando mal conduzido, pode gerar estresse, contusões na carcaça e perda de peso dos animais.

“Estes fatores influenciam diretamente o bem-estar animal, a qualidade da carne e a eficiência econômica da produção. Para evitar problemas no transporte, boas práticas devem ser seguidas nas fases de pré-embarque, embarque, viagem e desembarque”, informa o zootecnista e assessor técnico da Connan, Gustavo Paranhos.

A importância de cada etapa

Para garantir um processo de transporte mais assertivo, o zootecnista destaca abaixo cada uma das etapas e quais os cuidados necessários para otimizar a operação:

Pré-embarque: Manter os animais na baia ou piquete até momentos antes do embarque. Retirar os animais das baias onde estão ambientados e levá-los para o curral na noite anterior ao embarque pode causar estresse e posteriormente afetar a qualidade da carne. Também deve-se evitar juntar lotes, pois pode haver brigas e os animais se machucarem ou danificarem as instalações.

Embarque: O embarque deve ser realizado de forma tranquila, sem correria e em instalações adequadas. Para isso, é fundamental que a equipe de manejo seja treinada e as instalações (cercas, piso, rampas, balança) estarem em boas condições para que não ocorram traumas ou contusões em virtude de objetos pontiagudos, buracos no piso ou cercas danificadas que os animais tentem passar.

Viagem: Durante o transporte alguns detalhes são importantes para garantir o bem-estar dos animais. O caminhão deve ser apropriado para o tamanho dos animais, possuir divisórias internas e piso antiderrapante. A lotação da carga pode variar de acordo com o peso e tamanho dos animais, portanto é fundamental evitar superlotação ou excesso de espaço, pois isso leva ao aumento do estresse, contusões e aumenta o risco de quedas. O motorista deve ser treinado e realizar a condução do caminhão evitando freadas bruscas, curvas fechadas e excesso de velocidade. O trajeto deve ser o mais curto possível e em estradas em boas condições. Uma regra importante no transporte de bovinos é que os animais viajem sempre em pé.

Desembarque: Assim como o embarque, o desembarque deve ser feito de forma calma, em boas instalações e os animis devem ser encaminhados diretamente para o curral de descanso. Neste momento os animais precisam ter acesso à água.

Impactos na qualidade da carne

Conforme explica Paranhos, práticas inadequadas de manejo pré-abate têm grande impacto na qualidade da carne e podem gerar perdas econômicas significativas. Isso acontece porque animais submetidos ao estresse ou manejos errados estão suscetíveis a terem mais contusões na carcaça e alteração no metabolismo muscular, que comprometem as características da carne.

“O estresse pré-abate leva à diminuição das reservas de glicogênio muscular, essencial para que ocorra a queda do pH durante o resfriamento da carcaça no frigorífico. Se as reservas não estão em quantidades suficientes, o pH da carne não atinge o valor ideal, o que leva a uma carne escura, dura e seca, conhecida como DFD. Essa carne tem menor valor comercial, vida útil reduzida e maior rejeição pelo consumidor”, detalha.

O zootecnista alerta ainda que o maior desafio nesse sentido é garantir boas práticas em todas as fases. Sendo assim, é indispensável que todos os envolvidos no transporte reconheçam a importância do bem-estar animal e sejam treinados para adotar as melhores práticas. “Considerando que o bem-estar animal tem impacto direto na qualidade e no valor final da carne, é de interesse de todos os envolvidos na cadeia produtiva buscar meios para mitigar o estresse e garantir condições adequadas aos animais”, acrescenta.

Nesse viés, Paranhos destaca que a tecnologia tem sido uma grande uma aliada na busca por práticas que promovam esse bem-estar aos animais. Especificamente no transporte de bovinos, a tecnologia tem avançado em várias frentes como, por exemplo no desenvolvimento de caminhões adaptados, com altura adequada, piso antiderrapante e estrutura que favorecem a circulação de ar e redução do calor.

Ele cita ainda que, o uso de sistemas como o GPS auxiliam na escolha do trajeto mais curto, das estradas em melhores condições e a evitar horários de trânsito intenso. A tecnologia também está presente nas instalações, como no desenvolvimento de rampas com inclinação adequada (<20º), corredores com laterais fechadas e nos softwares de gestão, que possibilitam coletar e analisar dados do transporte de maneira rápida e eficiente.

“Além dos benefícios econômicos e para os animais, o manejo adequado atende às exigências dos consumidores, que estão cada vez mais atentos ao bem-estar animal e à qualidade dos alimentos que chegam à mesa”, conclui o especialista.


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