A última semana foi bastante conturbada, repleta de eventos impactantes. Drones russos avançando para a Polônia, julgamento e condenação relâmpago do ex-presidente Jair Bolsonaro, assassinato brutal de Charlie Kirk, tropas americanas e aumento das tensões com a Venezuela, governo americano prometendo ações contra o Estado brasileiro, novos pontos de tensão das nações ocidentais contra Rússia e China, Israel aumentando os ataques no Oriente Médio. Todos esses eventos não são de aspecto econômico, mas influenciam cada vez mais os rumos da economia.
A economia é um campo que necessita de estabilidade para melhor se organizar. Maximizar resultados econômicos é ter previsibilidade relativamente consistente para que o planejamento, a produção, os investimentos, as relações com fornecedores, os importadores e exportadores, a estabilidade da demanda, as contratações e demissões, o funcionamento da sociedade e a ordem jurídica que a sustenta estejam alinhados para que as decisões de cada empresa em particular possam obter o melhor resultado econômico geral possível, evitando assim os choques de oferta e de demanda. Mudanças imprevistas nestas variáveis tornam o planejamento das empresas menos eficaz.
Além dos desafios econômicos clássicos — como a elevada taxa de juros, a inflação persistente, um governo deficitário e ineficiente na gestão dos gastos públicos, a constante elevação de impostos que encarece os custos e a crescente instabilidade jurídica causada por mudanças frequentes na interpretação das leis — soma-se agora a concorrência direta com as tensões do cenário político. Observa-se a ascensão de uma nova corrida armamentista, que altera profundamente a lógica produtiva global antes sustentada pelas cadeias internacionais de produção.
O tecido social está sendo esticado. Existem duas cosmovisões disputando o poder e gerando atritos relevantes para o mundo dos negócios. Os socialistas de um lado, capitaneados pela China, apostam no Estado grande e interventor, na sociedade controlada. É a ordem por meio da força. O pensamento ocidental liberal de outro, capitaneado pelos EUA, que propõe o inverso, o Estado controlado, cujo valor primordial é a liberdade. A liberdade como fator de ordenação social, seja para empreender, pensar ou falar.
Essa disputa mexe com toda a estrutura social vigente. Essas ideologias estão em rota de colisão e provocando um intenso realinhamento de países dentro da geopolítica, formando blocos de interesses com base na afinidade ideológica, modificando profundamente relações comerciais e influenciando a diplomacia. O movimento nas placas tectônicas da geopolítica se reflete também na política nacional. Partidos políticos estão se alinhando a um lado ou outro. Os debates estão se intensificando e o conflito de agendas é visível. É uma disputa é por corações e mentes. O ambiente está saturado de paixão política, uma característica perigosa e explosiva. A racionalidade tem se afastado do debate, assim como a lógica econômica.
Os governos democráticos ocidentais trabalham para perpetuar-se no poder vencendo eleições. Com ascensão da China, o modelo de totalitarismo oriental começou a ser entendido como viável no ocidente. Políticos simpáticos a esse modelo têm um aliado poderoso com a ascensão chinesa, ajudando esses partidos. A resposta dos partidos conservadores veio pelo uso da política econômica como instrumento de batalha entre os dois blocos. Algo que a China já fazia de forma sutil. Agora arma essencial dos conservadores ocidentais, caso queiram ter chance nessa disputa.
O governo brasileiro tomou sua posição. Tanto na diplomacia como em seu posicionamento interno contra a oposição, agindo com rigor excessivo. Fato que irrita o governo Norte-Americano, que esperava ao menos neutralidade. O governo se aliou com Pequim, e busca formas de repetir políticas chinesas em terras tupiniquins. Nesse contexto é impossível aos empresários manter neutralidade. Em breve o empresariado será chamado a comparecer no ritual de beija-mão do Rei.
Estamos caminhando para a implosão de um dos mais importantes pressupostos da ciência econômica dado por David Ricardo, tido quase como um dogma – que a ampliação do comércio internacional é um pacificador contra conflitos no mundo. O pressuposto é que nações que comercializam não entram em conflito. As novas políticas aplicadas estão desmentindo isso. Nações com relações comerciais intensas estão em rota de colisão. Em caso de conflito, ninguém deseja ter sua produção, mesmo com custo menor, em país inimigo. O poder econômico nesse caso deve estar atrelado à economia real e a capacidade produtiva em seu país, e não somente em resultados financeiros maximizados pelo uso das vantagens comparativas internacionalizando produção.
Quando o poder das armas incomoda, não há racionalidade econômica que supere produzir internamente itens essenciais, algo que ficou patente na pandemia, quando a China – líder da produção global de EPIs e respiradores, restringiu exportações destinou sua produção à demanda interna. Mesmo empresas estrangeiras foram proibidas de exportar sua produção a outros países até segunda ordem. Esse foi o ponto de virada que despertou o ocidente para sua dependência. Agora a política impacta cada vez mais na economia, no esforço de trazer empresas de volta para seus países de origem. E a disputa está só começando.