À procura do bode expiatório: a culpa será de Trump?

Bruno Sbrogio
11/08/2025 09h11 - Atualizado há 1 dia
À procura do bode expiatório: a culpa será de Trump?
Foto: Alan Santos /PR

Uma das grandes questões é para onde vai a economia brasileira em meio a tantos desafios. A pressão de Trump e o consequente embate com os EUA apenas reforçam as dúvidas. A verdade é que, mesmo antes de o Brasil enfrentar disputas comerciais com a maior potência do planeta, nossa economia já dava sinais de enfraquecimento.

Enquanto estamos entretidos com a disputa comercial e com a postura passiva do governo, a economia continua dando sinais. O primeiro deles é que, segundo pesquisa recente da Confederação Nacional do Comércio, a inadimplência cresceu, atingindo o maior patamar em quase dois anos. Isso é reflexo de uma economia que sofre com uma taxa de juros alta, na tentativa de frear a inflação, que continua alta, resistente e implacável.

O endividamento das famílias permanece estável em 78,5%. O problema é que cresce o número de famílias que não conseguem mais honrar o pagamento dessas dívidas — e isso é o grande problema da inadimplência.

Uma sociedade bastante endividada é como uma bomba-relógio. Qualquer recessão pode dar início ao efeito bola de neve, levando parte desses endividados para a inadimplência, que atinge em cheio as empresas, atingindo, por consequência, outras, e assim por diante. Por isso, é bom manter o olhar atento tanto para o endividamento quanto para a inadimplência, principalmente com uma taxa de juros alta, um elemento poderoso para acionar esse gatilho.

Analisando essas informações, o cartão de crédito segue como o principal meio de endividamento, com 85,5%, e também como o que provoca o efeito bola de neve altamente comprometedor para o orçamento de muitas famílias quando a renda se torna insuficiente. Saber lidar com cartão de crédito é um conhecimento importante que, infelizmente, nenhuma escola brasileira ensina.

As famílias de baixa renda, como sempre, são as que mais sofrem com o cenário atual. Abrindo ainda mais esses dados, vemos as mulheres chefes de família enfrentando as maiores dificuldades. Em um momento em que a inflação não dá respiro, a situação se complica na base da pirâmide. A renda de muitas famílias torna-se menor do que suas despesas, e isso é um problema que se aprofunda.

Finalmente, chegamos à consequência emocional do endividamento, que por si só já pressiona todo aquele que vai dormir pensando nas contas que precisa pagar. Situação pior para os que estão na inadimplência, onde o desconforto emocional e psicológico é significativamente maior.

A insegurança, o receio do futuro, o aumento constante dos preços, o desânimo com relação à economia, aliado a um governo que, dia sim, outro também, discute novos aumentos de impostos nos noticiários, levam à descrença no futuro. Não sou da escola dos que creem no poder da profecia autorrealizável de que o simples otimismo gera crescimento e o simples pessimismo derruba a economia, mas reconheço que o “humor” dos mercados — e das pessoas — dá uma ajuda considerável ao destino.

Finalizo com a projeção da CNC, que prevê que este ano terminará com inadimplência 1,4% maior que em 2024. Não que esse seja um dado isoladamente preocupante, mas a soma de todos os indicadores indica uma desaceleração econômica que pode rapidamente se tornar um problema. O conjunto da obra preocupa. Incluo nisso a trajetória da dívida pública, que foi divulgada recentemente pelo Tesouro Nacional, apontando um pico correspondente a 84,3% do Produto Interno Bruto em 2028. Vários analistas usaram a palavra “descontrole” para qualificar o problema da pressão fiscal crescente.

O cenário agora é o seguinte: juros elevados e uma inflação que se acomodou acima do teto da meta, demonstrando dominância fiscal na prática; pressão de alta dos custos de produção em consequência dos aumentos de tributos e taxas do governo; a dívida pública se elevando sem que a equipe econômica consiga demonstrar controle sobre a situação ou propor alternativas viáveis; inadimplência crescente e a abertura de vagas de trabalho desacelerando no mercado formal. Em meio a tudo isso, o Brasil resolveu comprar a briga com os EUA, em vez de adotar um tom conciliador e ameno.

Está ficando cada vez mais difícil ser otimista com a situação econômica brasileira e, com tantos problemas internos a resolver, agora estamos focando no único problema que parece ser opcional nessa altura dos acontecimentos.

 

 


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