Nos últimos anos, a intensificação da pecuária de corte no Brasil ganhou um espaço definitivo no planejamento das propriedades que buscam maior eficiência. O custo de oportunidade da terra e a pressão por resultados mais eficientes exigem que o pecuarista produza mais em menos tempo. Nesse contexto, a escolha da forrageira não é apenas um detalhe técnico, mas sim uma decisão estratégica que pode determinar o sucesso ou o fracasso de todo o sistema. A ciência já mostrou que não basta ter capim em quantidade; é preciso ter qualidade nutricional para sustentar ganhos de peso expressivos.
As gramíneas tropicais variam muito em valor nutritivo, mesmo quando cultivadas em condições semelhantes de solo e clima. Os teores de proteína bruta, a digestibilidade da matéria seca e a relação folha/colmo mudam significativamente entre espécies e cultivares. Um capim de menor qualidade pode apresentar bom acúmulo de massa, mas não garante desempenho satisfatório em sistemas intensivos. Por outro lado, panicuns modernos como o Panicum maximum cv. Mombaça, Tanzânia ou BRS Zuri têm se destacado pelo elevado valor nutricional e alta capacidade de suporte.
A diferença prática se traduz em números concretos. Enquanto forrageiras como braquiárias tradicionais, caso da Urochloa decumbens (B. decumbens), podem ter proteína bruta variando entre 6% e 8% na matéria seca, panicuns manejados adequadamente alcançam 10% a 14%, com digestibilidade superior. Essa diferença impacta diretamente o ganho médio diário dos animais, que pode ser maior quando a dieta base tem qualidade superior. Não se trata apenas de mais nutrientes disponíveis, mas também de melhor aproveitamento da energia, já que a taxa de passagem e o consumo voluntário aumentam quando a forragem é mais digestível.
O manejo do pastejo e da adubação é determinante para que os panicuns expressem seu valor nutricional. Após o alongamento do colmo e a queda na relação folha/colmo, a qualidade cai drasticamente, com redução da digestibilidade e aumento da fibra indigestível. Nesse sentido, a altura de entrada e saída dos animais, aliada a um calendário de adubações nitrogenadas e potássicas bem planejado, torna-se tão importante quanto a escolha inicial da cultivar. Em outras palavras, é a interação entre genética da planta e manejo adotado que gera as condições ideais para transformar capim em arrobas de carne.
Um dado relevante é que panicuns adubados com 200 kg de nitrogênio por hectare, sob manejo rotacionado, podem sustentar taxas de lotação acima de 6 UA/ha e ganhos por área acima de 30 arrobas por hectare ao ano. Isso é o dobro do observado em pastagens não adubadas de braquiária, evidenciando como a combinação entre valor nutricional e intensificação eleva a eficiência produtiva. O desafio, claro, é equilibrar os custos de implantação e manutenção com a receita proveniente do ganho de peso, mas os números apontam que o retorno tende a ser positivo quando o manejo é tecnicamente bem conduzido (Tabela 1).
Tabela 1 – Valor nutricional e potencial produtivo de forrageiras tropicais.
Fonte: Adaptado de Embrapa Gado de Corte (2021), Embrapa Cerrados (2020) e dados compilados da Esalq/USP.
O manejo tem efeito direto sobre a qualidade da forragem, pois determina a proporção de folhas jovens disponíveis para consumo, que são mais ricas em proteína e energia. Se o pastejo é retardado e o capim ultrapassa a altura recomendada, há alongamento do colmo, acúmulo de fibras e queda na digestibilidade, reduzindo o potencial de ganho dos animais. Por outro lado, quando o manejo respeita as alturas de entrada e saída adequadas, promove-se um fluxo contínuo de rebrota foliar, com teores nutricionais elevados e maior taxa de ingestão voluntária.
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Quando o produtor decide intensificar, precisa ter clareza de que panicuns não são apenas capins mais "vistosos". São ferramentas de transformação produtiva, que elevam a base alimentar do rebanho para outro patamar. O manejo criterioso da adubação, a observação constante da altura do pasto e o respeito à fisiologia da planta são os elementos que permitem extrair o máximo de valor nutritivo dessas forrageiras. Sistemas intensivos não admitem improviso: exigem disciplina, conhecimento e planejamento.
No final das contas, mais arrobas por hectare não surgem de mágica ou de suplementos caros aplicados em cima de pastagens de baixa qualidade. Elas começam no solo, passam pela escolha da espécie forrageira e se consolidam na forma como o pecuarista conduz cada ciclo de pastejo. Os panicuns, quando bem manejados, deixam de ser apenas plantas no campo e se tornam verdadeiras fábricas de carne verde, capazes de sustentar uma pecuária tropical moderna, rentável e ambientalmente mais eficiente.