Mais Arrobas monitorando o consumo de água

João Menezes
03/09/2025 09h09 - Atualizado há 4 dias
Mais Arrobas monitorando o consumo de água
Foto: João Menezes

A busca por eficiência na pecuária de corte tem levado produtores e técnicos a revisitarem práticas básicas, mas decisivas, como o manejo da água. Em um cenário de margens apertadas e exigência crescente por produtividade, entender o papel da água na nutrição e no desempenho animal deixou de ser um detalhe operacional para se tornar um fator estratégico. A água, muitas vezes negligenciada, é o nutriente mais consumido pelos bovinos e o mais influente na conversão alimentar, no ganho de peso e na saúde do rebanho. Monitorar seu consumo e garantir sua qualidade pode significar a diferença entre um lote mediano e um lote que entrega mais arrobas por hectare.

Bovinos em confinamento consomem, em média, de 40 a 70 litros de água por dia, dependendo da dieta, da temperatura ambiente e do estágio fisiológico. Já animais em pastejo, embora tenham acesso mais livre à água, podem enfrentar desafios relacionados à distância dos bebedouros, à contaminação por fezes e urina e à presença de microrganismos patogênicos. A qualidade da água, portanto, é tão importante quanto sua disponibilidade. Água com excesso de matéria orgânica, pH desequilibrado ou presença de coliformes pode reduzir o consumo voluntário, afetar a digestibilidade da dieta e predispor o animal a doenças como leptospirose, salmonelose e diarreias nutricionais.

A ingestão de água está diretamente ligada à ingestão de matéria seca. Bovinos que bebem menos comem menos, e isso impacta diretamente o ganho de peso. Em confinamentos, onde o objetivo é maximizar a conversão alimentar, garantir água limpa, fresca e em quantidade adequada é tão essencial quanto formular uma dieta balanceada. A água influencia a atividade ruminal, a absorção de nutrientes e a regulação térmica dos animais. Em ambientes quentes, o consumo de água pode aumentar até 50%, e qualquer restrição nesse insumo pode levar à queda de desempenho e ao aumento do estresse térmico.

Além disso, a água atua como veículo para a ingestão de minerais e eletrólitos, fundamentais para o metabolismo. Em sistemas intensivos, como confinamentos e semi-confinamentos, o monitoramento da qualidade da água deve incluir análises periódicas de turbidez, pH, condutividade elétrica e presença de microrganismos. É recomendado que os bebedouros sejam limpos diariamente e que a água seja protegida de fontes de contaminação, como escorrimentos de chuvas e acesso de animais silvestres. Em sistemas de pastejo, a instalação de bebedouros móveis ou a canalização de água de fontes seguras pode melhorar significativamente o desempenho dos animais, reduzindo o tempo de deslocamento e aumentando a ingestão voluntária.

O impacto da água na produtividade pode ser observado em experimentos onde lotes com acesso a água limpa apresentaram ganhos de peso até 12% superiores em comparação a lotes com água de qualidade inferior (Tabela 1). Esse ganho se traduz em mais arrobas por animal, menor tempo de abate e melhor rendimento de carcaça.

Tabela 1 – Ganho médio diário (GMD) em bovinos de corte conforme qualidade da água.
 


Fonte: Embrapa Gado de Corte (2023)

Para além do impacto direto no ganho de peso, a qualidade da água também influencia parâmetros hematológicos e imunológicos dos bovinos. Pesquisas demonstram que animais submetidos ao consumo de água com altos níveis de contaminação apresentam alterações nos níveis de leucócitos e maior incidência de processos inflamatórios subclínicos, o que compromete a resposta imunológica e aumenta a susceptibilidade a infecções. Esses efeitos, embora menos visíveis no curto prazo, podem comprometer o desempenho zootécnico e elevar os custos com tratamentos veterinários. Assim, garantir água de qualidade é também uma medida preventiva de saúde, que contribui para a longevidade produtiva dos animais e para a estabilidade sanitária do sistema como um todo.

Esses dados reforçam que investir em infraestrutura hídrica, como bebedouros bem posicionados, sistemas de filtragem e monitoramento da qualidade, não é apenas uma questão de bem-estar animal, mas uma estratégia de rentabilidade. Em um mercado cada vez mais exigente, onde o consumidor valoriza práticas sustentáveis e o frigorífico remunera melhor carcaças bem acabadas, cada detalhe conta. E a água, esse insumo silencioso, pode ser o elo que faltava entre o manejo eficiente e o resultado no gancho.

Portanto, ao planejar a próxima safra de confinamento ou ajustar o manejo no pasto, vale incluir a água como item prioritário. Mais do que matar a sede, ela alimenta o desempenho. E quem monitora o consumo e garante sua qualidade, colhe mais arrobas e menos surpresas. Afinal, na pecuária moderna, até o que parece simples precisa ser tratado com ciência e estratégia.


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