Na pecuária de corte tropical, a transição do período seco para o das águas representa um momento crucial para garantir maior produtividade e eficiência no sistema de produção. É nessa fase que o manejo das pastagens assume papel decisivo para garantir mais arrobas no verão, pois a rebrota rápida e vigorosa das forrageiras depende do equilíbrio entre conservação da planta, manejo adequado do rebanho e preparo do solo para um crescimento eficiente. Técnicos e pecuaristas precisam estar atentos às práticas que otimizam o uso do recurso forrageiro nesse período, transformando o período de transição em oportunidade para incrementar a oferta e qualidade de alimento para o gado, garantindo o ganho de peso esperado.
Ao final da estação seca, os pastos geralmente estão submetidos a forte desgaste causado pelo estresse hídrico e pastejo intenso, o que compromete a capacidade das plantas em produzir folhas novas quando as chuvas iniciais começam a chegar. As reservas energéticas das raízes ficam fragilizadas, limitando a resposta rápida à retomada do ciclo vegetativo. A preservação do perfil foliar remanescente é, portanto, uma estratégia fundamental para oferecer às plantas a chance de regenerar suas estruturas aéreas com rapidez. Manter uma cobertura mínima de folhas – evitando o sobrepastejo – nessa etapa permite à planta armazenar açúcares e amidos nas raízes, que são essenciais para a produção de novas folhas e colmos mais tênues, resultando em pastagens com maior qualidade e produtividade quando o volume de chuvas aumenta.
Neste momento, o manejo do rebanho se torna estratégico para preservar a pastagem e garantir o potencial produtivo. A redução da taxa de lotação animal tem se mostrado uma medida eficaz para diminuir a pressão sobre as plantas em recuperação. A venda antecipada de animais de baixo desempenho ou idade, a utilização de suplementação volumosa e/ou concentrada, a engorda confinada e o confinamento temporário ("sequestro") são práticas recomendadas para ajustar a demanda às condições reais da pastagem. O ajuste correto da taxa de lotação pode aumentar o ganho de peso médio em arrobas em até 20% ao longo do período chuvoso, garantindo que o pasto tenha condições nutricionais e estruturais para suprir as necessidades do rebanho. O sequestro, em particular, tem ganhado popularidade por permitir o descanso do pasto e adequada recomposição da oferta forrageira, equilibrando sustentabilidade e rentabilidade.
Outro ponto imprescindível para acelerar o crescimento das pastagens no início do período chuvoso é a recuperação da fertilidade do solo. O uso da adubação nitrogenada nesta fase faz parte do manejo integrado do sistema. A disponibilidade de nitrogênio estimula a atividade microbiana, a taxa fotossintética e a formação da massa foliar, essenciais para a rápida rebrota do capim, sobretudo espécies como Brachiaria e Panicum, comuns no Brasil. Doses ajustadas de nitrogênio aplicadas logo após o início das chuvas elevam a produtividade em até 35%, oferecendo maior volume de biomassa com qualidade superior. Importante destacar que esta fertilização deve ser correta em dose e momento, demandando análise de solo e acompanhamento técnico para evitar desperdícios e melhorar a eficiência de utilização.
Dessa forma, o manejo sincronizado durante a transição seca-águas, focado na preservação da planta forrageira remanescente, na adequação da carga animal e na reposição do nitrogênio no solo, é fundamental para garantir mais arrobas no verão. Esse conjunto de práticas cria condições para o crescimento rápido e vigoroso das pastagens, oferecendo alimento nutritivo e em quantidade suficiente para o rebanho e promovendo o retorno econômico esperado pelo produtor rural. Ademais, esse manejo contribui para a sustentabilidade do sistema, reduzindo a degradação de pastagens e estimulando processos naturais de renovação da pastagem, aspectos fundamentais diante dos desafios climáticos e ambientais contemporâneos enfrentados pela pecuária brasileira.
Assim, ao incorporar essas estratégias técnicos e pecuaristas podem transformar a transição seca-água em um período de recuperação e ganho, aumentando a eficiência produtiva sem comprometer a saúde do pasto e do solo. A capacidade de manejar corretamente esta fase é um diferencial competitivo, permitindo aproveitar de forma racional o potencial da pastagem e ampliar os resultados econômicos de forma sustentável e duradoura (Tabela 1).
Tabela 1 – Impacto do Manejo Integrado na Transição Seca-Águas: Aumento estimado (%) de produção de forragem e arrobas
Fonte: Adaptado de Embrapa (2023), USP (2022) e Esalq (2021).
Observa-se que o efeito combinado dessas práticas ajuda a maximizar o potencial produtivo das pastagens nas águas, assegurando maior produtividade e melhor rentabilidade, além de preservar os recursos naturais para as próximas estações. O manejo consciente da transição seca-água é, portanto, uma prática imprescindível na busca pela pecuária de corte mais eficiente e produtiva.