Sempre antes de começar a coluna, eu faço uma última busca de notícias pelos principais veículos de mídia, e vejo se algo relevante foi publicado. Desta vez não foi diferente. Estampando a headline do portal G1 Economia, a manchete dizia: Governo busca de novo alta de impostos para equilibrar contas públicas (sic).
Abrindo a matéria, o tema é o orçamento de 2026, que tem problemas para fechar dentro da meta. Existe também a análise de medida provisória, a MP 1.303, para elevar arrecadação na tentativa de fechar a conta. Ela versa sobre: juros sob capital próprio, limitação de compensações tributárias, criptoativos e títulos subsidiados. O alvo é elevar em R$21 bilhões a arrecadação com essas medidas. Segundo analistas independentes, esse número é otimista demais, sendo mais realista considerar valores entre R$12 e R$18 bilhões. Esse excesso de otimismo por parte do governo parece conveniente para tranquilizar o mercado de que se trata de um último e necessário esforço para colocar as contas em ordem. Isso ajudaria a aceitar o custo extra como parte de um “esforço pelo bem fiscal do país”, esforço esse que provavelmente será insuficiente.
Com isso, vamos à vigésima quinta vez que o atual governo aumenta tributos para lidar com o caos que faz nas contas públicas. Foram gastos R$324 bilhões além do orçamento. Esse montante extra pressiona a inflação e tem como consequência o aumento da taxa SELIC. Sem contar todos os aumentos de tributos subsequentes, usados como forma de equilibrar as contas. Relembro alguns:
A lista é maior, mas isso serve para exemplificar o problema que a economia brasileira enfrenta hoje. Vive-se um dilema: precisamos escolher entre o crescimento do setor produtivo ou financiar o governo e sua farra. Não dá para fazer os dois.
Recentemente o governo anunciou uma linha de crédito especial para empresas atingidas pelas tarifas norte-americanas. A linha de crédito, longe de ser uma solução, é um novo peso para as contas públicas já deficitárias. Empréstimo subsidiado em uma economia com uma taxa de juros base em 15% ao ano custa caro, e a conta é sua. Mais fácil seria o Brasil negociar com os EUA. Mas preferiu o enfrentamento e a guerra de narrativas. Essa postura vai dar início a um cabo de guerra em que estamos fadados a perder. Novas reações americanas só não aconteceram ainda porque estão sendo feitos os estudos necessários para seguir os trâmites legais com que um país com lei e ordem precisa ter antes de agir. Portanto, estejam alertas, novidades virão – e temo que não sejam boas.
O recente relatório do Tesouro Nacional também não ajuda. Ele avalia que é necessário um esforço adicional de arrecadação para atingir as metas de 2026 a 2028. Um eufemismo para dizer que é necessário aumentar os tributos. O órgão diz ser prudente o esforço do governo no que tange a aprovar medidas como compensação da folha de pagamentos e mudanças nas alíquotas de CSLL e JCP. Existem novos movimentos sendo estudados.
O setor produtivo se mobiliza e busca mostrar ao governo que corte e contenção de gastos também são meios eficientes de conseguir os resultados almejados. Simplesmente repassar o custo para o setor produtivo pode gerar problemas econômicos sérios, pois há um limite para isso, e muitos setores dizem já ter cruzado essa linha.
Um exemplo desse cenário complexo e que pode piorar rápido: o Banco do Brasil. O resultado do segundo trimestre foi pior do que os analistas previam. O lucro líquido ajustado no 2T25 caiu cerca de 60% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, gerando o anúncio de diminuição dos dividendos para os acionistas. A culpa caiu na inadimplência do agro, setor que está pressionado por uma elevação de custos constante e sofre na mão de uma SELIC salgada. Mas será que o agro sozinho seria capaz de tamanho impacto? É momento de ficarmos atentos. O setor produtivo como um todo sofre.
O cenário vai se complicando, e o governo segue resistindo a um corte de gastos necessário. Insiste na elevação de tributos, que acabam por se tornar pressão de custos para o setor produtivo, e resiste a uma negociação direta com os EUA — o que pode nos custar problemas adicionais no futuro.