A lei do eterno retorno: o déjà vu à brasileira

Bruno Sbrogio
18/08/2025 09h59 - Atualizado há 2 dias
A lei do eterno retorno: o déjà vu à brasileira
Foto: reprodução

O Brasil se aproxima de uma nova crise. O mercado e as expectativas já estão alinhados com esse cenário. A resignação é evidente. Não existe luta ou discussão, nem uma aristocracia intelectual capaz de oferecer saídas viáveis. Parece inevitável.

Em parte porque o governo é irredutível quanto às suas crenças e ideologia, e não muda sua conduta o que exemplifica o desafio intelectual brasileiro. Mas em parte também porque não existe uma elite interessada. Não há nada que dê esperança ao cansado povo brasileiro, preso e amordaçado pelo patrimonialismo oligárquico tupiniquim.

O grande Mário Ferreira dos Santos, em sua obra-manifesto Invasão Vertical dos Bárbaros, denunciou a queda da alta cultura em nosso país. Segundo ele, a queda da cultura provoca a falta da criação intelectual inovadora, a morte das ideias verdadeiramente originais, levando a uma sociedade meramente imitativa. Isso fica evidente no ciclo de reciclagem de velhas ideias com nova roupagem. Nenhuma real progressão, nenhuma solução para velhos problemas. E o Brasil está atolado nesse ciclo.

Além do fato de o Brasil estar inoperante na produção de alta cultura, o problema atinge também as ciências. Existe pouquíssima criatividade. Por óbvio, esse problema aparece nas ideias e alternativas econômicas da academia, que, por sua vez, influenciam a condução da política econômica. Mais uma vez, nada de novo no radar: keynesianismo requentado, pensamento antiliberal, socialismo e intervencionismo em nova roupagem.

As faculdades de economia no Brasil estão a anos-luz das discussões mais elevadas. A produção acadêmica nacional tem baixíssima relevância internacional, raras citações em estudos estrangeiros e se mantém presa a cacoetes do século XX. A escola da Cepal ainda possui influência relevante e replicamos modelos desenvolvimentistas da década de 1960. Sim, o problema não está circunscrito ao Brasil, mas aqui a situação é desesperadora. Basta ver a incapacidade dos nossos gestores frente ao desafio de negociar tarifas com o governo americano. Fomos o único país do globo que falhou na missão — justo o Brasil, o “rei das tarifas”.

Voltemos ao alarme da crise. Todos entenderam o problema, já está mapeado. É como se estivéssemos em um carro desgovernado que se dirige rapidamente contra um muro de concreto. Ainda que haja freios e outros dispositivos para evitar o impacto, ninguém parece capaz de assumir a condução de forma a evitá-lo, e isso é angustiante.

Estamos presos em cacoetes mentais, despreparados para soluções disruptivas, sem coragem para buscar o novo. A repetição é evidente. Gesta-se hoje o mesmo tipo de crise vivenciada há poucos anos, ainda fresca em nossa memória, e mesmo assim não conseguimos evitá-la. Na crise de 2015/16, o PIB desabou por 2 anos seguidos em mais de 3% ao ano. Milhares de empresas quebraram, milhões de empregos foram destruídos. A pobreza explodiu, os escândalos de corrupção pululavam nos jornais, e o povo nas ruas dizia: “Nunca mais!”. Será?

Passada uma década, eis nosso caminho: mais do mesmo. Aquele governo é o mesmo de agora. As mesmas ideias, as mesmas promessas, a mesma condução. A mesma escola econômica testada e reprovada reassumiu o controle — e a nova reprova parece evidente. E quem na elite se importa?

Na semana passada, mais uma velha novidade: a ANEEL reviu para cima a previsão de aumento médio da energia elétrica, acima da inflação — que já estourou o teto da meta. A culpa: o novo pacote de isenção do governo para pessoas de baixa renda e a ampliação dos demais planos com foco social e resultados práticos duvidosos no que tange ao crescimento econômico, mas com um aumento de custos certeiro para a produção, que fatalmente se tornará aumento de preços para o consumidor final. Será que os formuladores de política econômica conseguem conceber alguma alternativa fora do assistencialismo para o crescimento do Brasil, diferente de um subsídio caro que fatalmente se manifestará em inflação?

Pois bem, a cerveja gelada acaba de ficar mais cara. Pergunte ao dono do bar que paga a conta de energia o que ele acha sobre isso. É esse o ciclo vicioso de que somos reféns. As ideias econômicas se parecem, não há novidades. Ninguém enxerga o horizonte, apenas o imediatamente próximo, e o interesse principal é o próprio bolso. A terra dos lobbies.

Morreu a alta cultura, e não há uma elite com capacidade de planejamento de longo prazo. Pior: morreu a consciência moral do brasileiro, fundamental para rejeitar os ilícitos e avivar a ética. Hoje, cada um quer aumentar seus privilégios e a esfera econômica tornou-se apenas um campo amoral onde se negociam vantagens de todo tipo — muitas jamais seriam aceitas em uma sociedade com alta cultura e valores morais sólidos. Que país quer ser o Brasil? Ninguém sabe, e parece que ninguém quer saber ao certo, exceto os velhos ideólogos do século XX — e parece que eles estão vencendo. Quanto aos demais, ganhando o seu quinhão, não parecem interessados em se opor, quanto mais se indispor com velhos oligarcas ideológicos.


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