Mar revolto e bússola quebrada: é hora de realinhar o prumo

Bruno Sbrogio
28/07/2025 09h37 - Atualizado há 1 dia
Mar revolto e bússola quebrada: é hora de realinhar o prumo
Foto: reprodução

Definitivamente não navegamos em águas tranquilas. Como se não bastasse a tormenta, ainda precisamos lidar com a bússola desnorteada de nossa embarcação. Essa metáfora simples evidencia tanto os problemas internos quanto os externos. A realidade macroeconômica com taxas, conflitos geopolíticos e até possibilidade de sanções traz uma imprevisibilidade que não era vista há tempos, caracterizando a tempestade; e a bússola desnorteada é a incapacidade de nossos dirigentes de se orientar e direcionar a embarcação para um caminho seguro.

Estar perdido é ruim mesmo na calmaria significa desperdiçar tempo, andar sem rumo e depender da sorte. Mas em meio à tormenta, exige-se risco além do razoável para sobreviver. É nesse contexto que o Brasil encara a situação atual. A mídia se perdeu em sua própria narrativa. Nota-se um esforço evidente, com analistas escolhidos a dedo e reportagens criativas tentando mostrar que a taxação americana é, no fim das contas, pouco relevante. Será?

Recentemente, o ministro da fazenda acusou o agro de ser patrocinado por meio de renúncias fiscais. A quantia chega a R$158 bilhões, segundo o ministro. A grandeza do número gera uma reação natural de antipatia contra o setor. Críticas surgiram. O que não foi adequadamente destacado é como esse montante é distribuído. A maior parte desse benefício se concentra em grandes empresas, uma reedição das campeãs nacionais, empresas com forte lobby e interlocução junto aos políticos no poder. Mas que não chega ao produtor, quem coloca a bota na terra, na ponta da cadeia.

O apoio direto à renda do produtor no Brasil é de 2,5%. Enquanto nos EUA chega à 10,9% e na UE à 19,1%. Como podemos acusar o agro de ser patrocinado diante dessa comparação? Será que esses R$158 bilhões estão sendo empregados a fim de maximizar os resultados para o setor como um todo ou somente para alguns privilegiados?

Da mesma forma os números para o Plano Safra são ambiciosos, mas raramente cumpridos, fazendo com que os produtores precisem recorrer a outros meios para obter crédito. Com as mudanças no IOF e no CRA, os custos de financiamento estão ainda mais pressionados. A constante elevação dos custos de produção mostra como o produtor consegue desempenhar mesmo em ambiente hostil. Esse mérito é esquecido.

A narrativa interna acaba sendo, infelizmente, contrária aos produtores, mesmo que todos saibam a importância vital do agro na economia e no crescimento do PIB dos últimos anos.

No evento da XP Expert, especialistas debateram o aumento das recuperações judiciais no setor, mas minimizaram o problema, sendo tratados como casos isolados de má gestão. Será mesmo? A verdade é que os meios de financiamento estão mudando, descentralizando, e o Plano Safra, ainda essencial, é insuficiente. A guerra comercial com os EUA trouxe um choque de demanda imprevisível, e um dos setores mais afetados foi a pecuária de corte — justamente um dos que mais recorreu à recuperação judicial.

Quem se beneficia com a falência de pequenos produtores? É uma pergunta incômoda, mas necessária. Internamente, seguimos presos a narrativas políticas — a bússola quebrada — enquanto países como a China sabem exatamente o que fazer: investem no Brasil, mas já diversificam seus parceiros e estimulam a produção em outras regiões.

O governo parece mais empenhado em criticar o setor do que em ajudá-lo, e usa o embate com os EUA como cortina de fumaça para sua própria ineficiência fiscal. Ter alguém para culpar é conveniente. A tempestade é real, e a responsabilidade do comandante seria ajustar a bússola e traçar uma rota plausível. Mas, ao que tudo indica, seguimos à deriva — entre discursos ideológicos, embates diplomáticos e uma política econômica sem leme. E quem paga o preço é quem está na linha de frente, com os pés na terra e a produção nas mãos.


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