Os preços do café arábica chegaram ao maior nível em dez dias na última sexta-feira (11), impulsionados pela tensão gerada pela ameaça do Brasil de retaliar caso os Estados Unidos confirmem a tarifa de 50% sobre as importações brasileiras, anunciada pelo presidente Donald Trump. No entanto, a alta não se sustentou e os contratos futuros acabaram encerrando o dia em baixa.
Em meio ao acirramento do cenário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que pretende buscar uma saída diplomática, mas garantiu que, se as tarifas entrarem em vigor em 1º de agosto, o Brasil responderá “na mesma proporção”. A relação preocupa o mercado, já que o Brasil é o maior produtor e exportador global de café, e os EUA, seu principal cliente, respondendo por cerca de 33% de todo o café consumido no país.
Fontes do comércio de café alertaram que, caso confirmada, a tarifa poderá praticamente interromper os embarques brasileiros para o mercado norte-americano, sem que os EUA consigam substituir o fornecimento em volume ou preço semelhante. Isso elevou o interesse dos investidores pelos estoques certificados pela bolsa ICE, referência global dos preços.
Os futuros do café arábica na ICE Nova York avançaram para US$ 2,9760 por libra-peso, maior cotação em dez dias, mas fecharam a sessão recuando 0,5%, a US$ 2,865 por libra. Operadores apontaram o ritmo acelerado da colheita no Brasil como um dos principais fatores para a reversão das cotações ao longo do pregão.
Já o café robusta seguiu em queda expressiva na ICE Londres, caindo 3,1% nesta sexta-feira para US$ 3.216 por tonelada. O contrato acumulou perda de 13% na semana e atingiu o menor valor em um ano.
“Nova York está refletindo um desejo maior de ter estoques físicos de café nos EUA. Essa recuperação é modesta, mas pode ganhar força”, avaliou Alberto Peixoto, diretor da AP Commodities.
No longo prazo, especialistas avaliam que as tarifas dos EUA podem ter efeito baixista para os preços mundiais do café, já que um eventual recuo das vendas ao mercado norte-americano aumentaria a disponibilidade global do produto para outros compradores.
Outras commodities softs também registraram variações nesta sexta-feira. O açúcar bruto subiu 1,9%, para 16,57 centavos de dólar por libra-peso, enquanto o branco ficou estável, a US$ 483,70 por tonelada.
O mercado do adoçante, porém, praticamente ignorou o risco das tarifas de Trump, já que o Brasil, maior produtor mundial, vende pouco açúcar aos EUA.
No cacau, Londres ficou estável a 5.289 libras por tonelada e Nova York subiu 1,5%, para US$ 8.177 por tonelada.