No Limite da Dominância Fiscal: a Carta do Banco Central como Marco Econômico

Bruno Sbrogio
30/06/2025 09h58 - Atualizado há 18 horas
No Limite da Dominância Fiscal: a Carta do Banco Central como Marco Econômico
Foto: Divulgaçãoo

No dia 10 de julho será divulgado o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que deverá confirmar o estouro do teto da meta de inflação. Segundo o novo regime de metas contínuas, se a inflação acumulada em 12 meses ficar por seis meses consecutivos fora do intervalo de tolerância, o Banco Central deve se pronunciar em carta aberta ao Ministro da Fazenda explicando os motivos desse descumprimento.

O Conselho de Política Monetária (Copom) tem atuado no sentido de conter a inflação, utilizando o clássico instrumento do aumento da taxa básica de juros – a SELIC, que está agora em 15%, uma das mais elevadas do mundo. A meta de inflação no Brasil é de 3% ao ano, com limite superior em 4,5%, valor muito inferior ao índice acumulado nos últimos 12 meses, que é de 5,32%. 

 

O regime de metas de inflação é usado internacionalmente, como EUA e Reino Unido, que estabeleceram meta em 2% ao ano. Nos últimos 12 meses, os níveis de inflação desses países ficaram em 2,3% e 3,4%, respectivamente, significativamente mais controlados que o índice brasileiro. Esses países estão fortemente integrados a cadeias internacionais de suprimentos, o que os torna dependentes de outros mercados para manter sua oferta estabilizada e os preços sob controle. Mesmo diante do impacto da guerra tarifária durante a administração Trump, a inflação permaneceu mais contida lá do que no Brasil, cuja situação fiscal apresenta desafios significativos.

Isso apenas comprova a gravidade do problema: o déficit exerce um impacto mais profundo do que a mídia costuma revelar. Para o Brasil, trata-se de um problema ainda mais grave do que o efeito de uma guerra comercial para os Estados Unidos. Isso impele o Banco Central a elevar o nível dos juros, necessário para manter a inflação dentro de um patamar aceitável. Contudo, esse nível elevado gera efeitos nocivos sobre a economia, especialmente sobre os investimentos.

É importante acompanhar o conteúdo da carta que o presidente do Banco Central enviará ao ministro Haddad e entender sua postura em relação às causas da inflação no Brasil, entre as quais se destaca o descontrole fiscal do governo. Caso o Banco Central não ataque esse problema e não proponha uma ação conjunta com o Poder Executivo — na qual cada parte faça sua contribuição para conter a inflação, incluindo a adoção de cortes fiscais consistentes, além da elevação dos juros —, é provável que a crise persista, obrigando-nos a conviver com níveis elevados de inflação e juros.

O fator preocupante é que historicamente alguns governos acabaram por usar a inflação como meio para diluir suas dívidas enquanto utilizam programas populistas e midiáticos para tirar o foco do problema, prometendo benesses aos vulneráveis enquanto o país afunda em um caos inflacionário, causando empobrecimento de sua população. O exemplo argentino é bastante próximo de nós e assemelha-se com o caminho que tomamos.

Por isso, entender a postura do Banco Central é de fundamental importância para antecipar o problema e avaliar se teremos uma saída diferente da que se desenha. Um governo gastador pode sentir a tentação de usar a inflação como mecanismo de correção da dívida de longo prazo, embora parte dela esteja indexada a títulos da própria dívida, o que gera um grande problema de empobrecimento para muitos, enquanto enriquece uma casta privilegiada que consegue se proteger desse processo — algo diametralmente oposto ao que prega o partido atualmente no poder.

 

A atmosfera negativa decorre da enorme resistência do Palácio do Planalto em reagir e aceitar a necessidade de cortes de gastos, algo que já se evidencia há bastante tempo. O governo, porém, persiste em um processo de esquiva e postura negacionista diante de um problema evidente, o que tem gerado grande inquietação e muitas reclamações nos bastidores. 
 

Um único e grande corte no orçamento, acompanhado de uma correção adequada, teria efeito imediato e positivo na economia nacional, reduzindo a pressão sobre o dólar e a inflação, realocando os fluxos monetários e antecipando um novo ciclo de queda da taxa de juros. Por isso, o conteúdo da futura carta do presidente do Banco Central ao governo será de grande importância para compreender o rumo da economia brasileira.

 

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