A guerra de propaganda e o papel do Brasil em meio às narrativas

Bruno Sbrogio
05/05/2025 11h36 - Atualizado há 21 horas
A guerra de propaganda e o papel do Brasil em meio às narrativas
Foto: reprodução

Em linha com o último artigo que escrevi, no qual mostrei que existe uma oportunidade e também um risco na dança das cadeiras do comércio internacional, um novo capítulo foi escrito semana passada, quando vários veículos da imprensa nacional repetiram a reportagem em que um porta-voz do governo chinês declarava a posição favorável de seu país no que tange à compra de grãos, especialmente a soja. As manchetes expressavam o seguinte teor: A China pode facilmente substituir os grãos norte-americanos. Tudo se resolveria buscando novos fornecedores e ampliando os atuais, como o Brasil. 
 

Como argumento para confirmar essa declaração, foram divulgados números que apontam o aumento das vendas de soja para a China, uma elevação de 32% em abril. O governo de Pequim também divulgou em seus canais vídeos de vários navios chineses descarregando soja brasileira em seus portos, como forma de passar uma mensagem aos EUA – nós não precisamos de vocês!
 

Precisamos atentar que este é um conflito muito mais amplo do que uma guerra comercial, é uma luta pela hegemonia global, onde a economia é apenas uma das frentes de batalha. Neste cenário, a propaganda é peça chave na estratégia de combate. As declarações repetidas massivamente por meio da mídia com um teor amplamente favorável à China, tem toda a estrutura de propaganda. Aqui existem dois alvos: Os EUA, com a bravata que a produção agrícola americana é dispensável; e o Brasil, reafirmando que a situação chinesa é confortável, e por isso não fará uma corrida por nossos grãos – causando uma disparada nos preços. 
 

Mas será verdade? Vamos olhar cuidadosamente para esse cenário. A China depende da importação de grãos para sua segurança alimentar. Antecipando o risco de um embate com os EUA, elevou estrategicamente suas reservas e agora divulga informações de uma situação aparentemente cômoda. Mas seria a demanda chinesa capaz de ser saciada apenas com a produção brasileira? 
 

A resposta é não. Ainda que toda a exportação brasileira fosse direcionada à China, falta muito para que sua demanda seja satisfeita e, mesmo buscando aumentar o leque de fornecedores, ninguém mais tem capacidade de lidar com o nível de demanda existente por lá; logo, trata-se de bravata. 
 

Para eles, a melhor estratégia é relatar normalidade, evitando especulações sobre seu excesso de demanda que resulte no aumento de preços, custando caro aos importadores de Pequim. Adicionalmente, passa a mensagem que o problema agora está com o governo Trump e o embate interno com seu agro, que perdeu um grande comprador.
 

E o Brasil, como fica? Dada a grande demanda chinesa, eles estão pressionados. Possuem reservas, mas a situação não é cômoda. Será necessário aumentar substancialmente suas importações, bem como os investimentos no Brasil – o único país com capacidade produtiva para supri-los neste momento. Porém, a produção nacional não é suficiente para satisfazer o mercado interno e externo, agora bastante pressionados. 
 

Com isso, é possível que vejamos uma reorientação da produção para a China, deixando o Brasil em situação vulnerável quanto à demanda interna, e isso será feito com o menor alarde possível, evitando especulações. Portanto, é necessário despertar para não ser pego de surpresa nos próximos meses, com preços internos aumentando, e antecipar uma possível queda de oferta por aqui, gerando inflação de custos, alimentos e demais produtos derivados.
 

A China precisa resolver o seu problema alimentar em meio à disputa com os EUA, e o Brasil precisa afirmar sua soberania, usando sua posição privilegiada. Já o amigo produtor esteja ciente de que a guerra acontece inclusive na propaganda. Cada lado luta pelo seu; só o Brasil parece continuar em berço esplêndido.

 

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