A colheita da safra de soja no Brasil segue avançando, mas produtores enfrentam desafios tanto no campo quanto no transporte dos grãos. No Rio Grande do Sul, as condições climáticas têm impactado a produtividade, enquanto em Mato Grosso, o grande volume de grãos colhidos pressiona os custos logísticos e eleva os preços do frete.
Impacto do clima na produtividade gaúcha
No Rio Grande do Sul, até a última quarta-feira (26), mais de 30% das lavouras da área de atuação da Cotrijal haviam sido colhidas, enquanto 57% estavam em fase de maturação. Dados do Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar, divulgados na quinta-feira (27), apontam que 24% das lavouras no estado já foram colhidas e 40% estão em maturação.
A produtividade tem variado conforme as condições climáticas de cada região. A média na área da Cotrijal é de 40 sacas por hectare, enquanto a estimativa da Emater/RS-Ascar para o estado é de 37,3 sc/ha. "Tivemos uma safra desafiadora, tanto pelas condições climáticas quanto pelo manejo, que precisou ser ajustado constantemente", afirma Alexandre Nowicki, coordenador do Departamento Técnico da Cotrijal.
As oscilações climáticas também favoreceram doenças e pragas. O início da safra teve chuvas regulares, que estimularam doenças como ferrugem asiática e manchas foliares. Já a partir de janeiro, o calor e a seca propiciaram a proliferação do oídio e de pragas como tripes e ácaros, exigindo maior atenção ao controle fitossanitário.
Além disso, a colheita tem exigido estratégias específicas devido à desuniformidade das lavouras. Em muitas áreas, as vagens já estão secas, mas as plantas ainda mantêm folhas verdes, tornando necessário o uso de maturadores fisiológicos. Os produtores também devem monitorar a umidade dos grãos, que deve estar abaixo de 14% a 15%, e garantir a calibração adequada das colheitadeiras para evitar perdas.
Colheita recorde pressiona logística em Mato Grosso
Enquanto os desafios climáticos impactam a colheita no Sul, a logística se tornou um gargalo em Mato Grosso. Segundo o Boletim Logístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado na segunda-feira (31), o avanço da colheita tem pressionado os preços do frete no estado, especialmente nas regiões onde os trabalhos começaram mais cedo, como o médio-norte mato-grossense.
Em fevereiro, o valor do transporte subiu em diversas rotas. Em Sorriso, o frete para Santos (SP) teve alta de 7%, chegando a R$ 490 por tonelada, enquanto para Paranaguá (PR) o aumento foi de 8%, alcançando R$ 460 por tonelada. Já em Querência, os aumentos foram ainda mais expressivos: 11% para Santos, 25% para Araguari (MG), 21% para Colinas (TO) e 20% para São Luís (MA).
A Conab atribui essa alta nos custos logísticos a diversos fatores. Além da safra recorde, que ultrapassa 46 milhões de toneladas – sete milhões a mais que no ciclo anterior –, a concentração da colheita em um curto período impactou o transporte. Cerca de 90% da área foi plantada em apenas cinco semanas, e as chuvas de janeiro atrasaram a colheita, represando a oferta do grão.
Com a diminuição das chuvas, a necessidade de escoamento aumentou rapidamente, intensificando a demanda por caminhões. Além disso, estados como Tocantins, Goiás e Bahia também avançaram na colheita simultaneamente, elevando a concorrência pelos fretes. Outro fator que pressiona os custos é a necessidade de liberar espaço para a próxima safra de milho, que será colhida a partir de meados de 2025.
"Com a produção recorde de soja estocada, os corredores logísticos seguirão movimentados nos próximos meses, mantendo suporte aos preços dos fretes, ainda que em patamares ligeiramente menores que os atuais", destaca a Conab.