O milho surge como uma preocupação para a inflação brasileira enquanto o preço do arroz despenca, acumulando queda de 20% no ano. O cereal, essencial para a produção de carnes de aves, suínos e bovinos, registrou alta superior a 23% em 2025, alcançando cerca de R$ 90 a saca de 60 kg no mercado de Campinas (SP), maior valor nominal em três anos, segundo dados do Cepea, da Esalq/USP.
O recuo no preço do arroz é resultado do aumento de mais de 15% na produção nacional, com recuperação expressiva na colheita gaúcha, além de uma melhora na oferta global. No entanto, a pressão inflacionária do milho preocupa, com estoques baixos e demanda aquecida das indústrias de etanol e carnes. Além disso, a incerteza sobre a segunda safra, a maior do país, pode agravar a situação caso o clima não colabore.
De acordo com a consultoria Datagro, o milho representa um risco significativo para a inflação de alimentos, com potencial de impactar em até 1,07 ponto percentual nos próximos seis meses. O efeito inflacionário também pode alcançar 0,47 ponto percentual no índice geral.
Segundo Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, a pressão de alta do milho já afeta toda a cadeia de proteínas, o que pode gerar impacto nos preços de frango, carne suína, bovina, leite e ovos.
Enquanto isso, o governo busca recompor estoques públicos de arroz por meio de Contratos de Opção de Venda (COV) da Conab, medida que pode atenuar a pressão inflacionária sobre os alimentos básicos. Contudo, a baixa adesão dos produtores limita o volume estocado, estimado em apenas 90 mil toneladas, frente à previsão inicial de 500 mil toneladas.
O economista André Braz, do FGV IBRE, destaca que a queda do preço do arroz pode colaborar para aliviar a inflação, mas pondera que o impacto isolado do grão não é suficiente para conter a alta generalizada dos preços das proteínas. "O efeito precisa ser amplo, uma andorinha só não faz verão", afirmou Braz.