O governo federal anunciou na última quinta-feira (6) a decisão de zerar a alíquota de importação da carne bovina como uma tentativa de reduzir os preços do alimento no mercado interno. No entanto, especialistas do setor agropecuário consideram a medida ineficaz, já que o Brasil importa menos de 1% da carne que consome e já pratica preços, em média, 14% mais baixos do que os dos principais exportadores globais.
Lygia Pimentel, sócia-fundadora da Agrifatto, destacou que a isenção do imposto sobre a carne importada não terá impacto significativo nos preços, pois a maior parte das compras do Brasil vem do Mercosul, onde os países já possuem acordos de isenção tarifária. Segundo ela, apenas cerca de 4% da carne importada pelo Brasil poderia ser afetada pela medida, o que é um volume irrelevante para a formação de preços no mercado interno.
Além disso, Lygia ressaltou que o Brasil é altamente competitivo na produção de carne bovina, o que torna a importação pouco vantajosa. Para ela, a ideia de reduzir os preços por meio da isenção tarifária não faz sentido, já que o país já vende carne mais barata do que a média global. "Para pagarmos uma carne importada mais barata, precisaríamos importar de nós mesmos", ironizou a especialista.
A medida do governo também abrange outros produtos, como milho, café e açúcar. No entanto, a avaliação da especialista é de que, apesar de a isenção tributária ser, em geral, positiva, nesse caso específico, o impacto será nulo. O Brasil já produz esses alimentos de maneira eficiente e com preços competitivos, o que torna a importação pouco relevante para a dinâmica do mercado interno. "A isenção não terá efeitos práticos na inflação, pois o país já é autossuficiente e altamente eficiente na produção desses produtos", explicou Lygia.
O mercado da carne bovina também passa por um momento desafiador, com a liquidação de fêmeas atingindo seu terceiro ano consecutivo. A alta nos abates tem sido uma resposta à crise econômica que afetou a pecuária desde 2022. Embora tenha havido uma recuperação nos preços no final de 2024, os criadores ainda não sentiram os efeitos positivos dessa valorização. Como resultado, o setor pode enfrentar uma redução na oferta de animais nos próximos meses, o que pode, inclusive, pressionar os preços para cima.
De acordo com Lygia, esse cenário sugere que a pecuária brasileira está próxima de uma virada de ciclo. A valorização da arroba do boi gordo, que ultrapassou os R$ 300 no ano passado, foi impulsionada principalmente pelo aumento da demanda, e não pela redução da oferta. Caso a escassez de animais se intensifique nos próximos meses, a tendência é que os preços continuem em alta. "Estamos às portas de uma fase de valorização no ciclo pecuário. O desafio será equilibrar a oferta para atender à demanda do mercado", concluiu a especialista.