A pecuária de corte enfrenta desafios constantes para otimizar a eficiência produtiva e garantir a saúde dos animais, especialmente em sistemas de confinamento. O uso de dietas ricas em concentrados é uma estratégia amplamente adotada para maximizar o desempenho dos bovinos. No entanto, essa prática pode resultar em distúrbios metabólicos, como a acidose ruminal subaguda (SARA), comprometendo a conversão alimentar e aumentando os riscos sanitários. Nesse cenário, o ácido málico surge como uma alternativa promissora, atuando como tamponante natural e estimulador da microbiota ruminal.
O ácido málico é um ácido orgânico presente naturalmente em diversas forragens e frutas. Seu principal efeito no rúmen é estimular a atividade de bactérias consumidoras de lactato, como a Selenomonas ruminantium, promovendo a conversão de lactato em propionato e reduzindo os riscos de queda abrupta do pH ruminal. Essa modulação favorece o equilíbrio da microbiota e melhora a digestibilidade dos nutrientes.
Além disso, estudos indicam que a suplementação com ácido málico aumenta a produção de ácidos graxos voláteis (AGV), especialmente o acetato e o propionato, essenciais para a geração de energia e deposição de gordura na carcaça. O aumento na concentração de propionato é particularmente desejável, pois este AGV é um precursor da gliconeogênese hepática, melhorando a conversão alimentar dos bovinos confinados.
A inclusão de ácido málico na dieta de bovinos confinados tem mostrado impactos positivos na digestibilidade dos nutrientes. Pesquisas indicam que sua suplementação pode aumentar em até 10% a digestibilidade da matéria seca (MS) e da fibra em detergente neutro (FDN), otimizando o aproveitamento dos alimentos e reduzindo perdas energéticas. Além disso, o ácido málico pode aumentar a retenção de nitrogênio, favorecendo a síntese proteica e, consequentemente, o ganho de peso.
Em um estudo conduzido por Martin et al. (1999), bovinos confinados suplementados com ácido málico apresentaram um aumento de 5,8% no ganho médio diário (GMD) em comparação ao grupo controle (Tabela 1). Outros experimentos demonstraram que a suplementação pode reduzir a incidência de acidose subaguda, proporcionando um melhor bem-estar aos animais e reduzindo a necessidade de tratamentos veterinários.
Tabela 1 – Efeito da Inclusão de ácido málico em dietas de bovinos confinados (Adaptado de Martin et al, 1999, beefpoint.com.br).
Esses dados demonstram que o ácido málico contribui para a melhora da fermentação ruminal, refletindo positivamente no desempenho dos animais.
Apesar dos benefícios zootécnicos evidentes, o custo da suplementação com ácido málico ainda é um fator a ser considerado. A viabilidade econômica da sua utilização depende do custo do produto no mercado e do nível de inclusão na dieta. Estudos sugerem que a inclusão de 3 a 6 g de ácido málico por kg de matéria seca consumida é suficiente para obter ganhos produtivos significativos.
Uma estratégia interessante para reduzir custos é a combinação do ácido málico com outros aditivos, como tamponantes tradicionais (bicarbonato de sódio) ou probióticos que favorecem a fermentação ruminal. Essa sinergia pode potencializar os efeitos positivos, permitindo ajustes nutricionais mais precisos.
A suplementação de ácido málico é uma estratégia nutricional promissora para bovinos confinados, pois melhora a digestibilidade da dieta, otimiza o ambiente ruminal e reduz a incidência de acidose subaguda. Esses efeitos refletem diretamente no desempenho produtivo, aumentando o ganho de peso e melhorando a eficiência alimentar.
Apesar do custo ainda ser um fator limitante, a viabilidade da suplementação pode ser otimizada com ajustes na formulação da dieta e a combinação com outras tecnologias nutricionais. Para produtores e técnicos, considerar o uso do ácido málico como parte de uma abordagem integrada de manejo alimentar pode representar um diferencial competitivo na busca por maior produtividade e eficiência na terminação de bovinos confinados.