As demandas por proteína animal produzida de forma sustentável estão aumentando a cada ano, e o bem-estar animal tem evoluído para uma questão-chave para empresas que levam a ESG a sério. Para Elisa Tjarnstrom, consultora de bem-estar animal e diretora-executiva da COBEA, esse é um dos principais indicadores de sustentabilidade, e espera-se que empresas sustentáveis tenham um bom desempenho em todos eles.
“Um exemplo dessas conexões é que a agricultura animal tem um impacto direto em questões ambientais, bem como na saúde pública, devido à ligação com o uso de antibióticos”, analisa.
Em termos de rastreabilidade, Elisa diz que as empresas precisam saber o que está acontecendo em toda a sua cadeia de suprimentos, para evitar riscos de reputação e para poder responder a perguntas de partes interessadas, como consumidores, organizações não-governamentais (ONGs) e investidores. “É sobre credibilidade, licença para operar e estar preparado para o futuro, e os processos de monitoramento de bem-estar animal ajudam com isso”, explica.
De acordo com a executiva, cada parte da cadeia de valor tem seu papel a desempenhar e precisa trabalhar em conjunto para impulsionar as melhorias necessárias. Além disso, há um limite para o que uma empresa individual pode alcançar, trabalhando isoladamente.
“Nesse aspecto, os varejistas, por exemplo, precisam de certas condições, como um fornecimento estável e boa garantia de qualidade, enquanto os produtores precisam de condições como segurança e viabilidade financeira e suporte para implementar sistemas de bem-estar mais elevados”, pontua. “Somente trabalhando em conjunto, as condições necessárias podem ser criadas, e quaisquer custos relacionados a mudanças podem ser compartilhados”, avalia.
Na visão da consultora de bem-estar animal, até agora, a colaboração em toda a cadeia de valor da proteína animal tem sido fragmentada, e as empresas estão trabalhando com problemas semelhantes, separadamente, o que pode levar a solicitações e expectativas desalinhadas.
“A COBEA foi criada para tentar preencher essa lacuna, definindo uma ambição e prioridades comuns e criando a plataforma necessária para um diálogo maior, prioridades compartilhadas e soluções que exigem esforços colaborativos”, informa a especialista.
O papel da regulamentação
Nesse sentido, Elisa diz que a regulamentação tem seu papel a desempenhar em termos de definição de padrões mínimos que todos precisam aderir e devem ser mais desenvolvidos para fornecer um campo de jogo mais equilibrado. No entanto, para ela, esses são processos longos e frequentemente reativos em vez de proativos.
“Os padrões da indústria e os esquemas de certificação que são auditados têm um papel importante a desempenhar aqui, pois eles fornecem a garantia necessária e opções de reconhecimento para produtores que estão indo além disso. Com a indústria se unindo para encontrar alinhamento, a ênfase pode ser em soluções que funcionam para todas as partes e um senso comum de ‘propriedade’ da temática pode ser alcançado”, detalha
Na opinião de Elisa, o bem-estar animal é uma questão complexa, pois requer a participação de muitas partes interessadas diferentes e, em muitos casos, mudanças sistêmicas. “É por isso que queremos apoiar a indústria na definição de uma direção conjunta e áreas de foco prioritárias, e na identificação das principais barreiras que estão impedindo o progresso e o que é necessário para superá-las”, ressalta.
Conforme explica, o setor de pet food é um grande comprador de coprodutos de proteína animal e está cada vez mais exigindo produtos elaborados de forma sustentável. “Para facilitar esse acesso e fornecer o suporte necessário aos produtores, faz sentido que eles unam forças com a indústria alimentícia, pois compram dos mesmos produtores e têm muitos dos mesmos desafios”, comenta. “Por essa razão, precisamos reconhecer que essas e outras indústrias também fazem parte da cadeia de suprimentos de proteína animal e têm um papel importante a desempenhar”, orienta.
Na visão da diretora-executiva da COBEA, barreiras à sustentabilidade – como financeiras, regulatórias, sociais, culturais, organizacionais, tecnológicas e de mercado – dificultam a implementação de práticas sustentáveis na complexa cadeia de suprimentos da indústria alimentícia. Para avançar, ela considera essencial adotar uma cultura de colaboração, tanto internamente quanto entre os diversos participantes da cadeia.
“A Colaboração Brasileira de Bem-Estar Animal (COBEA) é uma nova iniciativa pré-competitiva do setor que já conta com grandes atores do setor de alimentos e pet food no Brasil. A criação da COBEA revelou que muitas empresas enfrentam desafios de sustentabilidade trabalhando de forma isolada e que, agora, são necessárias soluções conjuntas para avançar”, destaca. “A união dessas empresas representa uma oportunidade de tratar essas questões complexas de forma colaborativa, superando as limitações dos esforços individuais”, arremata.