18/10/2024 às 09h08min - Atualizada em 18/10/2024 às 09h08min

Queimadas agravam desafios no manejo do solo em safra atrasada

Atraso no plantio e incêndios dificultam a produção agrícola, enquanto importações de fertilizantes tentam compensar a falta de chuvas

- Da Redação, com Notícias Agrícolas
Foto: reprodução

O plantio da safra 2024/2025 de soja no Brasil registrou um ritmo lento, atingindo apenas 9,1% até a primeira quinzena de outubro, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No mesmo período da safra anterior, o índice era de 19%. Esse atraso significativo é atribuído principalmente à escassez de chuvas, o que gera preocupações sobre o impacto no calendário do milho safrinha, que depende de uma janela de plantio adequada para garantir bons níveis de produtividade.

 

Diante dos desafios climáticos, as importações de fertilizantes se intensificaram. Em setembro, o Brasil importou 4,6 milhões de toneladas de fertilizantes, o segundo maior volume já registrado, atrás apenas de agosto, que registrou 4,9 milhões de toneladas. A previsão é que o país atinja um recorde anual de mais de 42 milhões de toneladas de fertilizantes importados. Segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), as entregas de fertilizantes totalizaram 22,9 milhões de toneladas no acumulado do ano até julho, um indicativo de que os produtores buscam alternativas para mitigar as perdas provocadas pela seca.

 

Além da falta de chuvas, o aumento das queimadas e as temperaturas elevadas em diversas regiões produtoras acrescentam dificuldades ao manejo do solo. O engenheiro agrônomo Cláudio Lucas Campeche, da Embrapa Solos, explica que os incêndios podem destruir a camada de matéria orgânica que protege o solo, tornando-o mais suscetível à erosão hídrica e eólica. "A queimada, ainda que utilizada tecnicamente em algumas situações, deve ser evitada, pois destrói a principal fonte de nutrientes e abrigo para a biodiversidade do solo", ressalta Campeche.

 

Consequências das queimadas para a produção agrícola

 

A prática do manejo do fogo é autorizada em casos específicos, sempre com acompanhamento técnico. No entanto, seus efeitos adversos são evidentes. A destruição da cobertura vegetal expõe o solo a erosões que comprometem não apenas a produtividade das lavouras, mas também a qualidade dos corpos d’água, uma vez que o material erodido é transportado para rios, lagos e represas. A redução da capacidade produtiva do solo afeta diretamente a rentabilidade dos produtores e pode causar danos ambientais em áreas urbanas, como as chamadas "tempestades de areia", em que o vento carrega o solo seco por longas distâncias.

 

Além disso, o impacto no solo vai além da perda de nutrientes. A erosão pode levar à compactação do terreno, reduzindo a infiltração da água da chuva e prejudicando o crescimento das raízes das plantas. Mesmo quando nutrientes como cálcio, magnésio e potássio são disponibilizados após a queimada, o efeito positivo é temporário, pois esses elementos podem ser rapidamente removidos por ventos ou pela lixiviação.

 

Medidas para mitigação e manejo sustentável

 

Para minimizar os efeitos das queimadas e das mudanças climáticas, Campeche recomenda a adoção de práticas conservacionistas, como o Sistema Plantio Direto, que mantém a palhada sobre o solo, e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que promove um uso diversificado da terra. Técnicas como o terraceamento, a rotação de culturas, a adubação verde e a construção de bacias de retenção também ajudam a controlar a erosão e a conservar a umidade do solo.

 

Planejar o uso do solo com base em características locais, como profundidade, textura e teor de matéria orgânica, é fundamental para a sustentabilidade agrícola. Identificar áreas de risco, como terrenos inclinados ou sujeitos a alagamentos, permite adotar ações específicas para proteger o solo e a água.

 

Com o aumento das condições climáticas extremas, como secas e chuvas intensas, o uso de tecnologias preditivas para monitorar o clima e planejar as atividades agrícolas se torna essencial. Essas tecnologias, aliadas a métodos conservacionistas, ajudam a garantir a perenidade das nascentes e a disponibilidade de água nos rios e lagos, elementos cruciais para a agricultura e a sustentabilidade ambiental no Brasil.


 


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