03/01/2024 às 13h09min - Atualizada em 03/01/2024 às 13h09min

O ano da recuperação para a pecuária bovina de corte

Fabiano Reis
Foto: Reprodução
Primeira coluna “De Olho no Mercado” de 2024 e desejo a você leitor, pecuarista, membro da cadeia produtiva da carne bovina, um ano sensacional, de realizações e bons negócios. Devo dizer, não ser apenas um desejo, mas, de certo modo, uma expectativa real de um período melhor para pecuária bovina de corte, baseada bem mais em seus fundamentos do que em cenários esporádicos.
 
Para escrever este primeiro texto de 2024, fiz algumas divisões em pontos de crescimentos ou oportunidade; pontos de risco ou desafiadores e ainda, pontos de controle e atenção.
 
Pontos de controle: os artigos da coluna “De Olho no Mercado” são voltados, em grande parte, para quem faz terminação de animais, engorda, etc. Então, tudo que envolva custo, de produção e “até certa concorrência” precisa ser observado de perto. Começo com o principal custo de quem engorda (bezerros/a; gado magro).
 
E relevante observar que em 2023 todas as categorias tiveram desvalorização, a primeira a ressentir e reagir, foi exatamente aquela que trabalha com cria. Uma atividade que demanda escala, não é viável em pequenas produções e que em determinado momento, observou ser mais rentável matar a fêmea que produz os bezerros, que tiveram preços muito pressionados no começo do último ano. Claro, isso elevou o abate de fêmeas e ajudou a pressionar os preços da arroba do boi. Em 2024, devemos ou já vemos, uma valorização dos animais de entrada, refletindo uma menor oferta causada pelos abates de fêmeas no último ano. Observe que será necessário comprar em momentos mais rentáveis evitando os picos de preços (que vão ocorrer).
 
Se a presença dos confinamentos foi pouca expressiva no ano passado, em 2024 este cenário muda. Confinamento e boitel devem ser ferramentas mais usadas. O fator significa que entra na concorrência para aquisição de gado magro, equilibra um pouco mais oferta nos momentos de escassez de boi gordo (outubro/novembro) e também demanda mais insumos como milho e farelo de soja.
 
Em relação ao milho, teremos um ano com oferta menor do cereal, se comparado ao ano passado. A diferença é de uma produção de 130 milhões de toneladas para 112 milhões de toneladas. Contudo, as exportações brasileiras, que devem alcançar 52 milhões de toneladas na safra 2022/23, deve voltar para números mais “normais” para as campanhas brasileiras, entre 32 mi e 34 mi de toneladas. O preço vai subir um pouco.
 
Por outro lado, no fator farelo de soja, a coisa muda. Apesar da expectativa de safra recorde da oleaginosa brasileira em 164 milhões de toneladas estar descartada (agora apontada na casa de 150 mi ton), a América do Sul vai produzir 20 milhões de toneladas a mais. O que pesa é a Argentina, principalmente, que teve três safras quebradas consecutivas, na 2022/23 colheu 20 milhões de toneladas, mas em 2023/24 deve colher 48 milhões de toneladas. Este fator já fez o bushel da soja (27,216 kg) negociado na Bolsa de Chicago perder o piso de US$ 13 por bushel para os contratos de março. Para efeito de comparação, ano passado, na mesma data, a posição de março da CBOT era negociada em US$ 14,00. Devemos ter uma oferta com custos menores para aquisição de soja e farelo no Brasil este ano. Além disso, o esmagamento deve aumentar no país neste ano.
 
Entre os pontos de risco ou desafios, destaco algumas possíveis políticas do Governo Federal, que possam trazer instabilidade ao setor e, até mesmo a classe trabalhadora e classe média. Falo principalmente, em torno da decisão anunciada no “apagar das luzes” de 2023, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que revogou a prorrogação da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia até 2027 por meio de uma medida provisória. A decisão é um risco para a economia nacional, para os setores (quase todos atingidos pela crise da pandemia de Covid) e geração / manutenção de empregos (fator de impacto direto no consumo interno). Espero ser possível uma reversão da MP. Particularmente, é a primeira vez que vi representantes do empresariado e de sindicatos de trabalhadores do Brasil falando a mesma coisa.
 
Os pontos de oportunidades e crescimento apontam para dentro. Há uma recuperação econômica no país, não é na velocidade que poderia ser ou a que desejamos, mas ela existe. Significa elevação do poder de compra do brasileiro, que teve parte da população recuperando crédito no último ano. (Amigos, o que é fato, é fato. Independente do time no qual estamos). Basicamente, o mercado doméstico ganha força. Vimos também a consolidação do mercado norte-americano como o segundo mais relevante para a indústria frigorífica brasileira. Nos EUA a carne bovina subiu, o rebanho reduziu bastante e as importações se elevaram. Em relação ao mercado chinês, observo que está em fase de maturidade, devemos ver crescimento por volume, mas não preço ágio como vimos em 2020 e 2021 (salvo alguma questão sanitária na China, como a que ocorreu). O pecuarista deve ter um 2024 mais equilibrado em relação aos custos de produção e rentabilidade.
 
Basicamente, desafio ou “perrengue”, pode ocorrer, mas as expectativas são bem melhores. Feliz ano novo!
 

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