O desenvolvimento da pecuária brasileira está diretamente ligado ao uso de novas tecnologias e à evolução das práticas sustentáveis em todo elo da cadeia produtiva. Esses dois fatores são grandes aliados do setor, afinal, os consumidores do mercado nacional e internacional exigem cada vez mais a comprovação da origem da carne que chega à mesa. Nesse cenário, a rastreabilidade é um divisor de águas para o avanço no setor.
Na opinião do Líder da National Wildlife Federation (NWF) no Brasil, Francisco Beduschi Neto, são inúmeros os benefícios gerados pelo uso dessa tecnologia na atividade pecuária.
“Os benefícios da rastreabilidade vão desde o controle zootécnico para gerenciamento de fornecedores e seleção de animais ao atendimento de demandas do mercado quanto à conformidade socioambiental, que pode variar de acordo com as referências / exigências dos consumidores”, aponta.
Nesse ponto, ele afirma que é sempre bom lembrar que assim como para outros produtos quaisquer do nosso dia a dia, para as commodities agrícolas também vale a regra de ouro das transações comerciais: “o bom vendedor, entrega aquilo que o consumidor quer comprar”.
“Sendo assim, cabe a nós, como vendedores de carne bovina, demonstrar que a nossa carne atende às questões daquele consumidor, e é nesse sentido que entra a rastreabilidade”, destaca.
Conforme explica, o consumidor já sabe que diversas fazendas participam da cadeia de produção, desde a cria até o abate e, ainda que nem sempre entenda toda a complexidade por traz do sistema produtivo, quando se fala em critérios socioambientais, ele quer saber se a carne que ele está comprando não tem impactos negativos para o ambiente e para a sociedade.
“Isso envolve falar sobre as diferentes fazendas, demonstrar que tal impacto foi, na verdade positivo, na maioria dos casos.”
Nesse aspecto, ele menciona que a NWF sempre leva aos seus parceiros o binômio “Produção & Conservação”, pontos que devem andar juntos para que a sustentabilidade ocorra de fato em seus três aspectos: Econômico, Social e Ambiental.
“Ainda que não estejamos em nossos projetos trabalhando diretamente com manejo de pastagens, melhoramento genético, nutrição animal e rentabilidade do negócio, esses e outros fatores importantes para o produtor são sempre considerados”, afirma. “Sempre buscamos ajudá-los a enxergar na rastreabilidade uma ferramenta extra para que ele possa melhorar seus próprios resultados”, completa.
Gargalos Na visão do executivo, os gargalos para a implementação dessas soluções são tão grandes quanto a própria pecuária brasileira, e vão desde o tamanho do rebanho até mesmo questões como acesso à informação e meios para custear a implantação de soluções.
Um dos maiores desafios, de acordo com Beduschi, está no engajamento dos produtores rurais, pois é preciso que eles compreendam a importância do aspecto socioambiental para a continuidade de sua atividade e para a pecuária brasileira.
“Apenas monitorar não é a solução. Precisamos incluir esse produtor nas discussões, auxiliá-lo na adoção de melhores práticas e, caso haja algum problema, apresentar os caminhos para solucionar a questão”, explica.
Na opinião do executivo, todos que trabalham em prol de uma pecuária sustentável não podem ser ingênuos e achar que não há problemas socioambientais a resolver.
“Nesse sentido, a rastreabilidade vai nos ajudar a identificar quais propriedades têm problemas, quais são solucionáveis, como podemos priorizar a solução e em que casos precisamos da participação de agentes públicos e em que casos a inciativa privada pode dar conta do recado”, argumenta.
Além disso, na opinião do especialista, já passou da hora de separar o joio do trigo, ou seja, separar aqueles que têm problemas por falta de conhecimento, mas que querem resolver, daqueles que erraram sabendo que estavam errados e não estão dispostos a corrigir.
“Aqueles que precisam de ajuda para regularizar pendências precisam ser ajudados, enquanto aqueles que estão no segundo caso precisam do rigor da lei”, comenta o líder da NWF. “Não temos a ambição de resolver todos os problemas, mas naquilo que nos compete temos trabalhado para desenvolver e implantar soluções com o mínimo impacto em termos de custos adicionais.”
Por fim, Beduschi lembra que vivemos na era do big data, e no agronegócio não é diferente. “Temos muitos dados sobre tudo e o desafio é o que fazemos com esses dados e como os transformamos em informação útil para a gestão do negócio do produtor rural”, arremata.