Foto: José Cruz / Agência Brasil O Brasil terá muito a ganhar com a mudança do perfil econômico observada na China. Após um período focado em investimentos na própria infraestrutura, o maior parceiro comercial do Brasil tem buscado mais fortalecer cada vez seu consumo interno. E, para dar conta dessa demanda crescente, focará investimentos na infraestrutura de outros países que tenham condições de ofertar produtos e alimentos a custo baixo.
Esse contexto foi o ponto de partida da reunião interministerial preparatória para a 7ª Sessão Plenária da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), realizada nesta quinta-feira (24), em Brasília. A comissão é o principal mecanismo de diálogo entre Brasil e China.
Um dos setores com maior potencial para receber os investimentos chineses é o da infraestrutura. Afinal, como disse o Ministro dos Transportes, Renan Filho, é interesse dos chineses garantir alimentos cada vez mais baratos para atender a imensa demanda chinesa com mais de 1,4 bilhão de habitantes.
Investir para atrair capital Renan Filho, no entanto, pondera que há uma relação direta entre investimentos públicos e capacidade de atração de capital privado, motivo pelo qual o Brasil precisa se antecipar e criar condições ideais para atrair o interesse chinês.
“No ano passado, o Ministério dos Transportes investiu R$ 7 bilhões. Em 2023, vamos investir R$ 22 bilhões. E, com o cumprimento das metas do arcabouço fiscal garantido, teremos em torno de R$ 78 bilhões para investimentos diretos públicos federais. Isso é a retomada dos investimentos públicos federais”, disse Renan Filho, ao iniciar sua participação na reunião interministerial preparatória, hoje, no Palácio Itamaraty.
“Vale dizer que há uma correlação muito clara entre os investimentos públicos e a capacidade do país em atrair capital privado. Os recursos privados se sentem mais animados quando há recursos públicos somando esforços. Então, estamos vivendo um ambiente muito positivo no que concerne a atração de recursos privados e é nessa agenda, que eu acho fundamental a interação com a China, principalmente no âmbito da infraestrutura”, acrescentou.
Momento promissor O ministro Renan Filho argumentou que o atual momento é muito promissor, sobretudo, porque a China deseja modificar seu perfil econômico, “transformando o perfil do crescimento econômico, focado apenas em investimento, para o fortalecimento do consumo”.
“Então, se eles pretendem reduzir o investimento [interno], especialmente em infraestrutura, isso significa dizer que estarão com uma boa oferta para investimentos no exterior, especialmente na área de infraestrutura [para baratear suas importações]. Isso criará uma óbvia sinergia com as necessidades do Brasil, porque somos o maior produtor global de alimentos e eles são compradores significativos”, disse o m
Ministro.
Investimentos Ele citou, entre os voltados à infraestrutura, a ampliação do modal ferroviário e a criação de uma competitividade maior entre as unidades portuárias brasileiras, “conectando-as a uma rede ferroviária mais robusta”.
“Já entregamos 100% da Ferrovia Norte-Sul, que tem duas saídas claras hoje: uma no Arco Norte, pelo Porto de Itaqui e por Miritituba; e também uma saída pelo Porto de Santos (SP). Vamos conectar a Norte-Sul com a Transnordestina para criar novas saídas pelo Arco Norte, e construir a Ferrovia Leste-Oeste, que ligará Ilhéus, na Bahia, passando por Caetité, trazendo a produção de Barreiras e de Luís Eduardo Magalhães, que é a área mais produtora do oeste baiano”, detalhou.
“Depois, corta o estado de Goiás por Mara Rosa, que é uma cidade extremamente produtora cortada também pela [ferrovia] Norte-Sul. Este é o ponto de intercessão. Passa, então, por Água Boa, em Mato Grosso, e vai até Lucas do Rio Verde, que é o coração da soja”, complementou.
Obras do PAC Otimismo similar foi observado no Ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França. Para ele, as principais obras previstas para os próximos quatro anos - aprovadas pelo novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - são “diretamente ligadas” à produção chinesa.
Setor aeroportuário Há também expectativas de investimento chinês no setor aeroportuário. Márcio França citou o potencial do mercado brasileiro, que atualmente registra 100 milhões de passagens vendidas. O número é alto, mas pode ser bem maior, uma vez que, segundo o Ministro, “só 10% dos CPFs [Cadastro de Pessoas Físicas] voam. Os outros 90% não voam”.
“Nosso objetivo é trazer outras pessoas para voar. Vamos fazer isso com a ajuda do Ministério do Turismo, disponibilizando voos a preços mais viáveis na ociosidade dos meses intermediários. Isso tem atraído empresas estrangeiras para se instalar no país, no formato low cost [baixo custo]”, disse ele ao informar que pelo menos duas empresas estão em tratativas, e que uma delas deve se instalar no país até o fim do ano.
Parceria comercial De acordo com o Presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, a reunião do Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), está prevista para o primeiro semestre de 2024. “A China é o maior parceiro comercial do Brasil, e o Presidente Lula, quando esteve na China, assinou inúmeros protocolos e acordos. Foi um encontro extremamente importante e nós vamos preparar a pauta para reunião do conselho" disse.