Para manter o ritmo de crescimento, sem perder de vista os fundamentos da sustentabilidade, os pecuaristas brasileiros contam com o apoio de tecnologias que contribuem para melhorar a performance e a produtividade do rebanho. Enquanto os grandes produtores têm mais facilidade para acessar as inovações, os médios e os pequenos enfrentam dificuldades para conseguir aproveitar os benefícios oferecidos pelas soluções tecnológicas. A situação é mais crítica em relação à inclusão digital, por causa da falta de conectividade no campo.
Durante o AbagTalks: Políticas e Tecnologias que Impulsionam a Competitividade do Agronegócio, evento online organizado pelo Comitê de Inovação da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), realizado no dia 30 de novembro, um dos palestrantes do evento, Vitor Knop, Associate Partner (A&IS) da Kyndryl, disse que tecnologia avançou, mas ainda existe um grande gargalo: a falta de conectividade no meio rural. “Esse problema é comum no meio rural, seja em uma fazenda, em uma agroindústria, em um local de armazenagem ou de transbordo. A questão é mais econômica que tecnológica”, analisou.
Para incentivar a expansão do acesso à internet no campo, onde a cobertura é de apenas 11%, e, em geral, é restrita às sedes das fazendas, em 2019, a AGCO, Climate, CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec, TIM e Trimble se uniram e fundaram a associação ConectarAGRO.
Segundo Ana Helena de Andrade, diretora de Assuntos Governamentais da AGCO, que também participou do AbagTalks, a entidade sem fins lucrativos atendeu à demanda do agropecuarista, que almejava uma tecnologia aberta, simples, confiável, e padronizada. Com base nesses critérios, o grupo elegeu a tecnologia 4G de 700 MHZ, de grande alcance, capaz de cobrir uma área cultivada de até 40 mil hectares com uma única torre. “Além de começar a trabalhar por políticas públicas, a ConectarAgro já contabiliza 2,5 mil hectares conectados”, relatou a executiva.
Mas o grande problema é como levar a conectividade ao pequeno produtor. Na opinião de Knop, as cooperativas poderiam contribuir para o processo de inclusão digital do produtor de pequeno porte.
Nesse sentido, ele não descarta o papel das políticas públicas e de órgãos como Anatel e o Ministério da Agricultura e de outros órgãos do governo, mas inclui entidades como Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Senar (Senar), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), além de cooperativas, para somar esforços e buscar recursos para a inclusão digital do produtor rural.
Embora o foco da Conectar Agro seja o agricultor, a iniciativa poderia servir de inspiração para a pecuária. Para se ter uma ideia, no ano passado, o rebanho bovino brasileiro alcançou o recorde de 224,6 milhões de cabeças de gado, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em setembro desse ano.
Esse número destaca a importância da pecuária bovina nacional como fornecedora de proteína para uma população estimada em 215,1 milhões de habitantes, conforme o mesmo órgão, além de contribuir para alimentar outros países, gerando divisas para a balança comercial brasileira. E mostra a pujança do setor que não pode ficar à margem do processo de inclusão digital, sob pena de perder mercado e renda.
