22/03/2022 às 11h30min - Atualizada em 22/03/2022 às 11h20min

Mercado exportador e doméstico: distância cada vez maior

Há vários meses tenho escrito em nossa coluna, “De Olho no Mercado”, sobre as diferenças hoje encontradas no mercado pecuário brasileiro. A distinção, tem se convertido em uma forte lacuna entre os preços pagos na arroba do gado pronto para produção de carne bovina a ser exportada para a China e arroba de gado a ser abatida para consumo do cambaleado mercado doméstico brasileiro. Elementos que trazem distanciamento entre as praças de negociação no país.

Não obstante, e sem querer polemizar um tema já bastante polêmico, a diferença entre os preços pagos tem quebrado recordes semana a semana. Fruto direto da disputa entre indústrias exportadoras para suas formações de escalas. Há uma grande busca do parque industrial paulista por matéria-prima em outros estados, os resultados são de um faturamento recorde mensal nas exportações e uma expectativa de receita recorde no primeiro trimestre do ano.

O ano de 2022 começou com fortes valorizações para o mercado do boi gordo brasileiro, fato inegável. Também é “inegável” o empobrecimento da população e a redução do consumo de carne bovina no país. Costumo escrever que o mercado doméstico brasileiro é um dos principais do mundo, mas os cenários trouxeram uma enorme dificuldade para aquisição por parte relevante da população brasileira. Como a maior parte da carne bovina produzida fica em território nacional, temos muitos movimentos de alta que não são compartilhados por todos os pecuaristas e mesmo por indústrias. Para ser franco, quem se lembra de artigos publicados em dezembro de 2021 e janeiro deste ano, tivemos este momento “compartilhado”. Depois disso, o distanciamento ficou cada vez mais evidente.

Do ponto de vista econômico, ao analisar uma moeda, de certo modo, instável, como é o Real, sempre sujeito a turbulência política presente no país, também de decisões complicadas como reduções bruscas de taxas de juros, seguidas de elevações com a mesma intensidade. O resultado, uma enorme volatilidade. Portanto, para usar o faturamento em “Real” como indicador, precisa de muito cuidado.

O resultado em Real que quero citar é uma projeção do faturamento das exportações de carne bovina. O primeiro trimestre de 2022 pode ter uma receita em moeda nacional em alta de pouco mais de 80% comparado ao mesmo período do ano passado e atingir neste ano R$ 16,100 bilhões. O uso apenas para comparar 2021 e 2022, qualquer outra equação precisa ter um parâmetro bem definido como o dólar ou deflacionar os valores.

Com o cenário descrito acima, devemos ter pelo menos mais duas semanas em compasso de mercado lateralizado com o boi gordo em São Paulo e uma contenção nas reduções nos valores pagos em outros estados brasileiros. A indústria fez, há quinze dias, propostas melhores, estabeleceu escalas um pouco mais expressivas e, agora, pressionam os preços negativamente, como vimos na última semana. Tudo normal. Sem novidades neste aspecto.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://canalpecuarista.com.br/.