04/04/2023 às 11h54min - Atualizada em 04/04/2023 às 11h54min

Exportação de carne bovina não é responsável pela queda de consumo no Brasil em 2022

A arroba do boi gordo segue em recuperação em quase todo o Brasil. A semana (Semana Santa) começou com poucos negócios, como o esperado para uma segunda-feira e, por se tratar de uma semana mais curta, os poucos negócios esperados para o período devem ocorrer na terça e quarta-feira. Também destaco neste artigo a derrocada das exportações de carne bovina no mês de março e a queda de consumo no Brasil.

   Como atuamos em nossos artigos, primeiro destaco o argumento final do parágrafo de abertura, que trata da queda de consumo de carne bovina em 2022. De acordo com o relatório da Consultoria Agro do Itaú BBA, foram consumidor 24,2 quilos por habitante, o menor desde 2004. Também, há de se considerar a alta de 6,5% na produção de carne.

Na semana eu ouvi muitos comentarem sobre a queda do consumo estar ligada às exportações de carne bovina, no qual discordo, de maneira mediana, tornando a questão um dos formadores do fator, mas não a causa. O senhor, a senhora, lendo o artigo, vai perguntar: Como assim?

De fato, as exportações de carne bovina (quando em preços maiores) força os frigoríficos exportadores pagarem mais e os não exportadores que atuam na mesma área disputarem. Uma briga na qual o que não exporta tem desvantagem, mas devo lembrar que muitos exportadores também fornecem carne bovina para o mercado interno. Com o enunciado, podemos observar algum nível de “responsabilidade” nos preços mais altos, refletirem em consumo menor, já que os preços serão repassados aos mercados atacadista, varejista e consumidor final.

Por outro lado, devo considerar também que de um total produzido de 7,9 milhões de toneladas de carne bovina no Brasil em 2022, 2,85 milhões de toneladas (35%) foram exportadas para variados destinos, principalmente China. Ficaram dentro do Brasil para o consumo interno 5,2 milhões de toneladas (65%), sim. Quase o dobro do que foi exportado.

Agora, volto a argumentar do lado dos que apontam as exportações como total responsável pela queda de consumo no Brasil. A carne bovina em 2020, no mercado interno brasileiro, subiu em média, 18% e de 7% em 2021, sem esquecer de 1,84% em 2022. Os dados são do IBGE. “Compare você mesmo com a inflação geral: 2020 com 4,52%; 2021 e a inflação chegou a 10,06% e em 2022 o índice de inflação chegou a 5,79%”.

Agora vou listar algumas questões mais responsáveis por este fator do que as exportações. “No meu entendimento, exportar carne bovina reduz o custo de produção total do produto quando se considera o todo do rebanho produzido e também do trabalho de desmontagem e industrialização”.

- Durante o ano de 2020 havia um volume menor de animais para abate, era momento de viver as consequências do abate de fêmeas em anos anteriores, a carne bovina seria mais cara de qualquer forma;

- O país ensaiava uma recuperação econômica e estava bem projetado. Contudo, havia uma inflação elevada;

- Em 2020 a inflação e o desemprego disparam com a desaceleração e quase paralisação da economia causado pelo Covid-19 (trata-se de um dado técnico, não é político. Se quem está lendo conseguiu ficar em casa, foi obrigado a ficar ou trabalhou. É fato);

- O poder de compra do brasileiro já corroído há anos, ficou mais frágil neste período;

- A inflação (de tudo) disparou no país e no mundo.

Somado ao fator de exportação maior de carne bovina, temos um contexto na redução de consumo de carne bovina no Brasil e realinhamento dos produtos que o brasileiro passou a consumir. Em resumo, o problema (em meu entendimento) é social. Precisamos de geração de trabalho e renda com qualidade. Se o poder de comprar existir, ele vence.

Sobre este tema, estou a estudar os efeitos da crise na pecuária, do abate de fêmeas, dos cenários de custos de produção elevados e preços não-remuneradores para a arroba. No meu entendimento, é provável que entre os anos de 2025 e 2026 o mundo viva uma escassez de carne bovina muito grande e cito os motivos:

- A China vai seguir ampliando as importações;

- Brasil estará no ciclo de baixa oferta;

- Os Estados Unidos estarão em ciclo de baixa oferta.

A soma destes fatores, essencialmente, Brasil e EUA, deve causar uma disparada nos preços internacionais. Na verdade, nunca aconteceu dos dois grandes produtores e exportadores de carne bovina do mundo coincidirem com uma baixa oferta. Os resultados devem ser preço internacional da tonelada da carne bovina elevado; produção voltada para exportação (remunera melhor); queda de consumo interno e frigoríficos não-exportadores sufocados. Observem: falei de 2025 e 2026.

Era evidente que as exportações de carne bovina recuariam em março. A queda foi de 26,4%, comparado a março/22, com um volume de 124,44 mil toneladas. O faturamento da indústria frigorífica exportadora caiu em torno de 36% com uma receita de US$ 598,79 milhões, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior.

Por fim, a semana deve ser de negócios mais lentos. A tendência de preços da arroba do boi gordo segue de leves alta, mas com muita negociação entre os envolvidos. No mais, bom trabalho e uma ótima Semana Santa a todos.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://canalpecuarista.com.br/.