25/03/2022 às 14h11min - Atualizada em 16/06/2022 às 18h34min

ONU: água subterrânea pode ajudar mundo a enfrentar clima extremo, mas poluição preocupa

Relatório aponta possibilidades de maior aproveitamento dos recursos, mas uso sustentável é essencial para garantir suporte às futuras gerações. O Brasil tem os dois maiores reservatórios subterrâneos de água do mundo.

 Discutir a grande caixa de água doce subterrânea existente no Planeta marca o Dia Mundial da Água na Organização das Nações Unidas (ONU). Ao mesmo tempo em que o mundo assiste perplexo às intensas e rápidas mudanças climáticas, a entidade faz uma revelação no mínimo surpreendentemente. Um primeiro relatório mostrava que 97% da água doce existente na Terra é subterrânea.

Novo relatório de recursos hídricos revelado no dia 21 de março de 2022 para marcar o Dia Mundial da Água, faz a correção e informa que, na verdade, a água doce da reserva subterrânea é de 99%, e que os rios existentes em todo o globo são apenas “torneirinhas”.

O relatório indica que “quase toda a água doce líquida do mundo é subterrânea, contribuindo para o fornecimento de água potável, com os sistemas de saneamento, com a agricultura, com a indústria e com os ecossistemas”.

Foi com essa informação que a ONU iniciou o 9º Fórum Mundial da Água que está acontecendo em Dacar, no Senegal. A discussão dos especialistas é como usar de forma sustentável essa grande “caixa d’água”, e fazer de seu uso, sustentável. Essa é a saída para produzir e atender a demanda pelo líquido que deve crescer 1% ao ano até 2030 em todo o Planeta.

Na verdade, a boa notícia do relatório é acompanhada da apreensão sobre a conservação desse sistema, uma vez que a absorção, armazenamento e reposição dessa água, também chamada de infraestrutura hídrica, vem sendo cada dia mais afetada. A conservação é urgente devido às mudanças climáticas e eventos extremos.

A utilização correta dessa caixa d’água pode promover o desenvolvimento social e econômico de todas as regiões, diz o texto do relatório. O problema, é a falta de fiscalização dos Estados para manter o consumo sustentável. O recurso, não é infinito.

Relatório da ONU destaca que "em muitos países, a falta geral de profissionais no campo de águas subterrâneas entre o pessoal das instituições e administrações locais e nacionais, bem como responsabilidades, financiamento e apoio insuficientes dos departamentos ou agências de águas subterrâneas, dificultam a gestão eficaz desse recurso".

Pior: uma vez poluída, a recuperação da água subterrânea é praticamente impossível. Os inimigos desse potencial são os velhos e conhecidos vilões das mudanças climáticas. Queimadas, desmatamento e uso indiscriminado de agrotóxicos. Enfraquecem essa caixa d’água, polui o estoque, chega aos rios e aos poços artesianos.

Além do nitrato, pesticidas e agroquímicos a mineração e a indústria precisam tratar a água que utilizam com mais eficiência, fazer o reuso eficiente e colocar fim à poluição dos rios e, por consequência, do lençol freático. Os especialistas reunidos em Dacar dizem que após poluída, é impossível tratar a água subterrânea.

 

A utilização desenfreada desse potencial em várias partes do mundo já comprometeu entre 15% e 25% dessas reservas. Ela não está sendo reposta na mesma velocidade. Entre os problemas estão o manejo equivocado do solo e as grandes áreas impermeabilizadas, como as regiões urbanizadas.

O professor José Arimathéia Oliveira, ambientalista do Instituto Federal do Rio de Janeiro, afirma que “sem capacidade de absorção, um solo empobrecido faz com que a água escorra em vez de ser absorvida, o que causa eventos como as enchentes que temos acompanhado em grandes cidades do Brasil”.

O Brasil é privilegiado. Até onde os estudos indicam, o Brasil tem a maior parte dessa caixa d’água e a maior parte das torneirinhas, que são os rios. Os dois maiores aquíferos (água subterrânea) do mundo estão no nosso território. O maior chamado Amazonas detém 162,5 mil quilômetros cúbicos. O segundo, o Guarani, 37 mil quilômetros cúbicos. O segundo, abaixo do rio Paraná, se estende para o Paraguai, Argentina e Uruguai.

No Brasil, segundo a ABAS (Associação Brasileira de Águas Subterrâneas), os aquíferos alimentam os rios com cerca de 2.400 km cúbicos de água fresca por ano. Para comparação, nossos países vizinhos têm volumes muito menores. Na Argentina são 128 km cúbicos por ano, no Paraguai 41 km cúbicos e no Uruguai, 23 km cúbicos, segundo dados das Nações Unidas.

Essa abundância nem sempre está acessível às tecnologias de perfuração, devido a grandes profundidades. Apesar do cálculo de que haja 60 milhões de km cúbicos de águas subterrâneas no mundo, cerca de um sexto dessa reserva estaria a menos de 4 mil metros de profundidade, zona de alcance para uso humano.

No Brasil, calcula-se uma reserva subterrânea de cerca de 112 mil km cúbicos de água.


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