O mercado do boi gordo segue deprimido e não poderia ser diferente. Em São Paulo a oferta de compra, sem o chamado “boi China”, tem preços muito aquém do que seria “equilibrado” para os custos de produção e margens para o pecuarista brasileiro e por isso mesmo não há negócios. Nos demais estados a situação é parecida, em alguns não houve redução de valores, mas também não teve registros de negócios.
Por outro lado, a identificação da Encefalopatia Espongiforme Bovina (atípica) em um animal macho, de nove anos de idade, com morte natural em um pasto no estado do Pará, somado ao ato rápido do Ministério da Agricultura de informar e, posteriormente, suspender as exportações brasileiras (como está no acordo entre Brasil e China) e, principalmente, o momento do mercado no qual há pouco disposição de carne bovina no mundo, os chineses estão desabastecido e, com uma tonelada da carne bovina exportada para a China até US$ 5 mil, não acredito que o nosso principal cliente vá demorar muito para retirar a suspensão e retomar as compras.
O cenário de 2023 é muito mais semelhante ao caso de 2019 do que o de setembro de 2021. E espero estar mesmo certo sobre isso. Vou explicar a conceituação.
- Em maio de 2019 o caso identificado em uma fêmea de 17 anos no Mato Grosso teve uma resolução bem rápida, inferior a 15 dias e, naquele ano, a China já aumentava substancialmente suas importações de carne bovina no Brasil;
- Em setembro de 2021, de certo modo, foi um desastre para a cadeia produtiva da carne bovina brasileira. Foram dois casos, um Mato Grosso, outro em Minas Gerais. A suspensão atingiu a cadeia no auge da safra de bois de confinamento, a China poderia segurar bastante tempo, já estava bem abastecida e fazia apenas compras pontuais. De fato os chineses seguraram, adiaram 120 dias para suspender o bloqueio, pressionaram para repactuar contratos e baixar preços e só compraram mesmo depois do ano novo lunar chinês;
Fevereiro de 2023 traz uma semelhança muito forte com o caso de 2019. Adiciono ao fato, a China ter acabado de sair do tal feriado de ano novo, período no qual consome boa parte dos seus estoques de carne bovina. Também, como escrevi no primeiro parágrafo, há uma quantidade menor do produto no mercado internacional e o produto com qualidade, escala e preço competitivo só existe no Brasil.
Enfim, quem sabe mesmo quando a China vai reestabelecer os negócios é apenas o Governo daquele País. Entretanto, os cenários mostram um ambiente mais favorável para um retorno rápido logo após a apresentação da contraprova.
No momento, tenho observado frigoríficos exportadores darem férias coletivas para suas equipes. Contudo, são períodos curtos, em média 15 dias, o que pode mostrar uma observação importante dos industriais. No campo, o pecuarista está com condições de manter o gado no pasto e engordando. Se a resposta para reduzir custos e melhorar margens em 2023 já era “PASTO” agora ela pode ser dita e escrita de maneira mais forte pelo pecuarista.
