O Tesouro Nacional promoveu nesta terça-feira (27) o maior leilão de Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), títulos com rentabilidade atrelada à inflação, em termos de risco desde maio, ao ampliar o lote de papéis de longo prazo.
Profissionais notam que, apesar da maior quantidade de risco, o certame teve demanda específica e foi bem absorvido pelo mercado, sem causar alta tão forte dos juros futuros. As taxas subiram mais de olho na tensão externa, mantendo o ímpeto regulatório na China, as expectativas com a reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de amanhã e a disseminação da variante Delta da covid-19 no radar.
Finalizado o pregão regular, às 16h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 6,17% no ajuste anterior para 6,22%; a do DI para janeiro de 2023 avançou de 7,57% para 7,63%; a do contrato para janeiro de 2025 variou de 8,35% para 8,40% e a do DI para janeiro de 2027 anotou alta de 8,70% para 8,74%.
O Tesouro Nacional realizou nesta terça o maior leilão de NTN-B em termos de risco desde maio, ao concentrar a oferta no vencimento mais longo (agosto de 2055). A instituição emitiu o equivalente a R$ 7,8 bilhões com a venda de 99% do lote de 1,8 milhão de NTN-B. O vértice para 2055 perfez 1 milhão de papéis, absorvidos completamente pelo mercado.
A última vez em que a instituição ofereceu um lote tão vultoso para tal vencimento foi em 18 de maio, quando vendeu o lote completo de 1,5 milhão de NTN-B 2055 na operação de maior risco (dv01, métrica associada à quantidade de risco absorvido pelo mercado) da história aceitos pelo mercado, de R$ 16,64 milhões.
Em nota, a corretora Necton pontua que, desde então, o Tesouro ofertou, em média, 425 mil papéis para esse vértice. “Vale destacar que o prazo médio dos leilões de NTN-B tradicionais (excluindo NTN-B 2023) costumava ser de 5,5-6,5 anos e, neste ano, com mais quantidades de leilões e com financeiro superior, o prazo médio ponderado tem sido, na maioria dos leilões, acima de 7 anos, o que ajuda a reduzir e necessidade de financiamento de curto prazo”.
A estratégia está em linha com o objetivo do Tesouro de elevar a fatia de títulos atrelados à inflação na dívida brasileira e também de alongar o seu prazo médio, segundo as definições do Plano Anual de Financiamento para 2021, revisado em maio.
Para um gestor de renda fixa, que prefere não ser identificado, as taxas que saíram as NTN-Bs 2055, de 4,50%, constituem um nível atrativo aos investidores institucionais. Este profissional avalia ainda que o Tesouro tem sido capaz de mapear uma demanda final relevante do mercado por dívida brasileira. “Isso ajuda a identificar aqueles players que vão segurar esses papéis e não são especulativos, algo que atrapalharia a dinâmica de preços”, afirma. De acordo com ele, a oferta foi, assim, bem absorvida pelo mercado, em que pese os termos de risco.
No mercado de juros futuros, participantes do mercado notaram que a aversão a risco externa é que deu o tom. Lá fora, os investidores se viram diante de uma série de catalisadores que inspiraram cautela: os temores de que a China poderá ampliar a regulação para empresas de outros setores, além de tecnologia e educação, foi um deles.
“O desempenho do DI, hoje, esteve ligado à aversão a risco exterior, que esteve bem ruim. As questões regulatórias da China pegaram o mercado como um todo”, pondera um gestor de renda fixa de um grande banco.
As expectativas com a decisão de política monetária do Fed de amanhã também reforçaram a cautela dos agentes financeiros, que estarão atentos à apreciação do banco central americano a respeito da retomada econômica, do caráter da inflação, a qual ele ainda enxerga como transitório, e da necessidade de manutenção dos estímulos
Outro fator que ocupou as atenções do mercado foi a cepa Delta da covid-19, que ameaça a recuperação global. Diante da disseminação da nova variante, mais contagiosa, os Estados Unidos voltaram atrás e passaram a recomendar que vacinados utilizem máscara em áreas de risco.
Diante das incertezas em relação à retomada, os investidores se desfaziam de ativos de risco apelavam por ativos de proteção, como os bônus soberanos, cujos preços sobem e os rendimentos caem em situações de alta demanda. Às 16h49, as taxas do título do Tesouro dos Estados Unidos (Treasury) com vencimento em dez anos recuavam de 1,297% no fechamento de ontem para 1,24%.