Ao analisar os resultados do PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2025, divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (30/05), Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), expressou sua preocupação com o desempenho do setor como um todo, que apresentou leve recuo de 0,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores. “Mais grave, porém, foi a queda de 1% da indústria de transformação”, frisou.
Para Cervone, esse recuo da manufatura, num período em que o PIB cresceu 1,4%, é um alerta que merece muita atenção por parte das autoridades econômicas, tanto dos responsáveis pela política fiscal, quanto dos que cuidam da monetária. “O retrocesso reflete as altas taxas de juros, que afetam o crédito de pessoas físicas e jurídicas, o desequilíbrio das contas públicas, que pressiona a inflação, e o poder de compra das famílias. Se as fábricas produziram menos bens de consumo é porque as pessoas estão comprando menos”.
O presidente do Ciesp também faz uma reflexão no sentido de que a queda do setor indica que os efeitos dos programas Nova Indústria Brasil (NIB) e Depreciação Acelerada, que visam à modernização, aporte tecnológico e fomento da atividade, não estão sendo tão eficazes quanto se esperava. “São boas políticas públicas, mas seus resultados acabam sendo atropelados pela persistência de problemas como os juros reais estratosféricos, os impostos muito altos e a insistência do Estado em socorrer o déficit público, taxando cada vez mais os setores produtivos”, pondera.
“Acabamos de ser surpreendidos com mais do mesmo nessa prática, com o recente aumento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para a indústria e da alíquota do IOF sobre operações de crédito para empresas, de 0,38% para 0,95%, que está sendo discutido com o governo pelo setor privado e o Congresso Nacional. As duas medidas somam-se a todos os problemas geradores do ‘Custo Brasil’, que tem limitado há tempos o crescimento do PIB e sufocado a indústria, uma atividade que demanda investimentos constantes em tecnologia, equipamentos e capacitação profissional para ser competitivo”, ressalta Cervone.
O presidente do Ciesp avalia que o aumento do PIB no primeiro trimestre de 2025 poderia ter sido bem maior se a indústria de transformação apresentasse resultados positivos. “Não me refiro apenas à participação nominal do setor na composição do Produto Interno Bruto, mas também ao seu impacto em praticamente todas as cadeias produtivas, pois gera R$ 2,44 para cada R$ 1,00 que produz. Ou seja, quando a manufatura avança, os serviços, o agro, o poder de consumo das famílias, os empregos e a economia crescem mais”, conclui.