A neutralidade da China em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia não deve prejudicar o comércio de produtos agropecuários com o Brasil, pelo menos por enquanto. Essa é a opinião da diretora executiva da Flora Capital, Larissa Wachholz, que também é especialista em relações com a China e foi assessora direta da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para assuntos relacionados ao país asiático.
Em uma transmissão ao vivo sobre as turbulências geopolíticas e os desafios do agro brasileiro, promovida pelo Insper Agro Global, Larissa lembrou que o Brasil é um parceiro muito importante para a China em relação ao fornecimento de produtos agropecuários – todos os alimentos que o país asiático compra por ano, 20% são fornecidos pelo Brasil.
Porém, como consequência do conflito entre Rússia e Ucrânia e a médio prazo, ela reforça que o Brasil deve ficar atento à maior aproximação entre Rússia e China, que já acontece.
Larissa comentou que a China já tinha tendência a mudar seus fornecedores de produtos agrícolas e, mesmo que o Brasil esteja numa posição extremamente vantajosa atualmente, deve lembrar que a Rússia tem um potencial agropecuário muito grande, que ainda não se materializou, mas pode se concretizar se haja condições e empreendedorismo para colocar este projeto de pé.
Ela completou dizendo que, pensando nas atuais sanções impostas pelo Ocidente à Rússia, caso elas perdurem, talvez a Rússia se sinta estimulada a ampliar a produção interna de alimentos e foque na exportação para China e Índia. Isso poderia, no médio prazo, representar perda de mercado para o Brasil.
Larissa reforçou que estava falando em cenários hipotéticos, mas que existe um risco palpável e que pode ser um dos maiores desafios que o conflito pode trazer na relação do Brasil com a China no agronegócio.
No mesmo evento, Marcos Jank, representante do Insper Agro Global, lembrou que 40% de tudo o que o agronegócio brasileiro exportou no ano passado foi destinado à China, somando US$ 45 bilhões.
Larissa ainda afirmou que “a China não tem nada a ganhar com este conflito (…) Há mais riscos do que oportunidades em uma situação de turbulência internacional”.
“A China é extremamente globalizada e é o maior parceiro comercial de mais de 130 países, inclusive o Brasil, então a última coisa que ela precisa é de um ambiente com turbulência internacional.” Completou.
Da redação com informações do Canal Rural.