Foi-se o tempo em que as anotações em papeis e o controle do pecuarista, apenas via olho, eram suficientes para gerir a atividade pecuária. Com a evolução das demandas por sustentabilidade do sistema produtivo, aumento de custos e pressão por produtos de maior qualidade, o pecuarista precisa ter controle financeiro melhor.
Ao mesmo tempo em que a tecnologia é uma aliada dessa evolução, por si só, ela não consegue dar conta de todas as ações necessárias para a implantação desse novo sistema de gestão. Assim, investir em orientação e conhecimento e tratar o negócio como uma empresa é o que vão garantir a longevidade da atividade.
Um relatório publicado pelo Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne) da Embrapa Gado de Corte, com o tema “O futuro da cadeia produtiva da carne bovina brasileira: uma visão para 2040”, traz uma abordagem interessante sobre essa questão.
O estudo visa subsidiar a definição de agendas estratégicas para formulação de políticas públicas e privadas, bem como a agenda programática de pesquisa, com base nos resultados do monitoramento do ambiente externo, a partir de sinais e de tendências que impactarão a cadeia produtiva.
Segundo o relatório, embora a cultura extrativista de parte dos pecuaristas possa atrasar algumas mudanças, as condições do mercado do boi e a disponibilidade de tecnologias vão favorecer as melhorias na gestão.
“Assim, é provável que, até 2040, os pecuaristas, em sua maioria, façam a gestão de suas propriedades como uma empresa”, prevê o coordenador do Centro de Inteligência da Carne Bovina (Cicarne), Guilherme Malafaia.
Segundo o especialista, estima-se que 20% das propriedades rurais recebem orientação técnica de diferentes meios, privados ou públicos. “Tecnologias para a agropecuária podem simplificar o processo de criação animal e depender menos de mão de obra, mas, para isso, os pecuaristas e os funcionários deverão receber mais capacitação”, diz Malafaia. “Entidades governamentais oferecem cursos que ensinam boas práticas na produção de bovinos, assim como o uso de tecnologias.”
Nesse viés, ele aponta que os custos da infraestrutura ainda são uma barreira para muitos pecuaristas, porém, há uma tendência de diminuição do investimento, tornando-a mais acessível, favorecendo a captação e o controle de dados e as práticas aplicadas mais alinhadas com as necessidades de cada propriedade. “É provável que, no futuro, a maioria dos pecuaristas esteja recebendo orientação técnica baseada em pecuária de precisão”, prevê.
Segundo o pesquisador, a alta rotatividade de mão de obra faz com que produtores se sintam desestimulados a oferecer treinamentos. “Em contrapartida, a introdução de máquinas no dia a dia do campo tem trazido mudanças nas relações de trabalho, necessitando de maior qualificação de mão de obra e diminuindo o seu uso”, destaca.
De acordo com Malafaia, com o investimento em tecnologia da informação e a automação de processos, menos pessoas realizam o mesmo serviço no mesmo espaço de tempo. “A probabilidade de haver uma diminuição considerável de mão de obra no manejo das propriedades rurais é alta, portanto, é necessária uma mudança no perfil gerencial para retenção de mão de obra de boa qualidade”, avalia.
Em relação à sucessão e à continuidade das atividade pecuárias, pesquisas apontam a redução na idade média de pecuaristas no Brasil, com perfil diferente dos atuais gestores do sistema. “Apesar de certo desinteresse dos filhos em dar continuidade aos negócios de família, há investidores em busca de melhorias no perfil gerencial, profissionalizando mais o setor”, destaca.
Um ponto analisado pelo estudo e que corrobora para esse cenário é que o aumento do nível de escolaridade faz com que sucessores e novos investidores incorporem conhecimentos técnicos pecuários e agrícolas e sejam mais receptivos a tecnologias de pecuária de precisão. “O investimento em pesquisa para o aumento no uso de tecnologia da informação no campo está a todo vapor”, informa.
“Podemos dar como exemplo, o IoT (Internet of Things), aplicativos de gestão, telecomunicação entre implementos e até maquinários autônomos. A integração da informação é parte da pecuária de precisão que pode reduzir perdas e melhor direcionar investimentos”, explica. “No futuro, há alta probabilidade de que os aplicativos de gestão e controle da propriedade rural estejam difundidos na pecuária de corte”, acredita Malafaia.