A eficiência produtiva na bovinocultura de corte e leite está diretamente ligada à qualidade da nutrição oferecida nos estágios iniciais do desenvolvimento dos animais. As fases de cria e recria são particularmente decisivas, pois é nesse período que se estabelece a base estrutural, funcional e imunológica que sustentará o desempenho do bovino ao longo de toda a sua vida produtiva.
Essas etapas envolvem intensas transformações fisiológicas e elevadas exigências metabólicas, que demandam uma abordagem nutricional mais precisa e estratégica. Em vez de focar apenas no aporte calórico e proteico, é essencial pensar a nutrição como um instrumento de modulação funcional, capaz de contribuir para a saúde, o crescimento e a eficiência dos processos biológicos dos animais.
Diante desse cenário, conforme observa o gerente de serviços veterinários da Ceva Saúde Animal, Marcos Malacco, além do papel exercido no sistema imune, os aminoácidos são pilares para a produção de proteínas, que são fundamentais para o desenvolvimento muscular, de órgãos e glândulas. “Também são necessários para o produção de enzimas, proteínas envolvidas em todo o metabolismo orgânico”, complementa.
De acordo com o veterinário, alguns destes aminoácidos, como o ácido glutâmico ou glutamato, a glutamina, a arginina,a cisteína, a treonina e a metionina são importantes para a produção da mucina, uma glicoproteína presente no interior do intestino, que auxilia no bloqueio da entrada de patógenos no organismo através da parede intestinal.
O especialista acrescenta ainda que essas substâncias também são necessárias para a multiplicação e maturação de células de defesa após contato com antígenos, promovendo não só a proteção local, como também evitando que esses cheguem à circulação geral, agindo diretamente na proteção do organismo como um todo.
O veterinario ressalta que as proteínas são nutrientes fundamentais para o organismo, entretanto, para que sejam utilizadas com máxima eficiência, a composição de aminoácidos presentes nas mesmas deve ser bastante equilibrada. Portanto, a suplementação proteica, tanto por via oral quanto por via injetável, deve levar em conta este conceito para que não ocorram desperdícios e até mesmo a subutilização dos aminoácidos fornecidos.
“Tudo que não é medido não é bem avaliado. Sendo assim, aspectos ligados à gestão, aplicação de técnicas e utilização dessas técnicas são de grande importância para qualquer atividade. Aí entram os processos de gerenciamento com ferramentas que auxiliam a mensuração e o andamento do negócio. Além disso, também precisamos destacar o treinamento. A busca por aprendizagem das técnicas e medidas que serão ou estão sendo utilizadas, é fundamental”, comenta Malacco..
Nesse viés, segundo ele, os responsáveis pela da mão de obra devem ter total conhecimento daquilo que estão fazendo, de como fazer, da importância de fazer e de como avaliar, ou seja, ter em mente quais os resultados esperados da aplicação das técnicas empregadas, pois estes aspectos serão de máxima importância para o sucesso e sustentabilidade de qualquer negócio.
Conforme observa o gerente, todo pecuarista, assim como qualquer empreendedor, deve estar preparado para desafios. Na pecuária bovina, ´por exemplo, há situações conhecidas e que normalmente ocorrem durante o processo de produção. Nessa questão, o primeiro desafio, segundo ele, é ter as fêmeas prenhes e tomar os cuidados necessários para o sucesso da atividade. “As vacas devem estar bem-preparadas o mais rapidamente possível após o parto para contribuir com a máxima eficiência na atividade de cria”, alerta.
Ele lembra ainda que, no gado de corte, os partos, geralmente, iniciam-se no final do período seco do ano. Com isso, o terço final da gestação, quando há o máximo crescimento fetal, e o pós-parto imediato, ocorrem em período crítico em termos nutricionais nos animais criados a pasto. “Portanto a vaca passa pelo que é chamado de balanço energético negativo, situação em que o aporte de energia não é suficiente para suprir a demanda necessária nestes períodos e o animal perde peso ou Escore Corporal”, observa Malacco..
Diante disso, a tendência é que haja atraso para a retomada dos ciclos reprodutivos normais e que garantam boa fertilidade. Ele conta que técnicas de manejo reprodutivo que envolvem a utilização de hormônios em períodos pré-determinados e a inseminação artificial das vacas, também em momento pré-determinado (IATF), têm contribuído para a retomada da atividade reprodutiva pós-parto nestas fêmeas,
“Porém, caso os animais estejam sob balanço energético negativo significativo, o que pode ser comum nas vacas à pasto e em início da estação reprodutiva, que normalmente ocorre no início do período chuvoso seguinte, os resultados não serão os esperados, culminando com menores taxas de prenhez”, explica.
O especialista acrescenta ainda que este fato também ocorre nas vacas que não estejam em IATF, o que pode acabar afetando o Intervalo entre partos e a lucratividade. “Entretando, realizamos um estudo que demonstrou que a suplementação com uma formulação injetável, que contém todos os 10 aminoácidos essenciais, além de 8 dos10 não essenciais, aplicada em vacas com menor escore corporal no dia da inseminação artificial em protocolo de IATF, proporcionou taxa de prenhez significativamente mais alta no lote de vacas suplementadas quando comparadas a não suplementadas”.
Já após o parto, o outro desafio destacado pelo veterinário é a taxa de sobrevivência das crias e, para evitar essas perdas, manejos fundamentais como a cura do umbigo e a mamada do colostro de qualidade em tempo hábil são fundamentais.
Aliado a isso, a suplementação injetável com formulação equilibrada com os 10 aminoácidos essenciais, além de aminoácidos não essenciais, contribui para o desenvolvimento da imunidade no sistema gastrointestinal e geral do organismo. “Há outros momentos desafiadores e estressantes como o desmame, o transporte e o início de adaptação a novos regimes alimentares, em que a suplementação injetável e equilibrada de aminoácidos contribuem e permitem melhores resultados” complementa..
Na avaliação do especialista, a tecnologia tem sido fundamental para o alcance de máximos índices de produtividade na pecuária bovina. “O ponto positivo é que muitas dessas tecnologias já estão disponíveis e adaptadas às nossas condições, como as desenvolvidas aqui por empresas de pesquisa como a Embrapa, por exemplo. Elas têm contribuído bastante para maior produtividade no rebanho bovino brasileiro, tanto leiteiro quanto de corte, envolvendo a genética, a reprodução, a nutrição e a sanidade”, enfatiza Malacco.
Ele cita ainda que os resultados positivos da aplicação da tecnologia na pecuária bovina têm se demonstrado através da redução da idade e aumento do peso das carcaças de bovinos abatidos, melhor qualidade da carne, novilhas mais jovens já disponíveis para a reprodução, aumento da produção de carne e leite por área, maior taxa de prenhez nas fêmeas expostas a reprodução, além de maior taxa de sobrevivência das crias que desmamam mais pesadas. “A recria merece destaque, pois ainda podemos avançar para a redução nesse período e, para isso, também já temos tecnologia disponível, com emprego de técnicas sanitárias e nutricionais adequadas”, acrescenta.
Por fim, o especialista ressalta a importância da elaboração, aplicação e acompanhamento de um calendário sanitário específico para a fazenda, que deve respeitar as categorias, tipo de exploração (corte, leite, extensivo ou intensivo). “Nesse sentido, a contribuição do médico veterinário é imprescindível e, uma vez tudo estabelecido, o rigor no cumprimento do calendário é fundamental”, conclui o médico-veterinário.
