Centenas de produtores rurais seguem mobilizados por todo o Rio Grande do Sul na sexta-feira, 30, mesmo após a aprovação, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), da prorrogação das dívidas do setor. A medida, esperada há semanas, foi recebida com frustração. Segundo o senador Luiz Carlos Heinze, “a tão aguardada resolução foi publicada, mas veio cheia de restrições. As manifestações continuam e não vamos recuar até que o grito de socorro dos nossos produtores seja ouvido”.
Os protestos ocorrem em mais de 60 pontos no estado, com forte participação de caminhoneiros, comerciantes, empresários da indústria e membros da sociedade civil. As interdições bloqueiam o tráfego de veículos nas estradas, liberando apenas ambulâncias, viaturas, caminhões com cargas vivas, leite e outros produtos perecíveis.
As mobilizações tiveram início no dia 13 de maio e, de acordo com os organizadores, não têm data para terminar. O movimento só será encerrado quando forem adotadas medidas práticas e eficazes para lidar com o endividamento dos produtores, que enfrentam dificuldades há mais de um ano.
O principal pleito é a securitização das dívidas, mecanismo que permitiria ao setor renegociar seus débitos com prazos mais amplos e condições especiais. A decisão do CMN, no entanto, apenas alterou regras do manual do crédito rural, sem criar novos instrumentos de renegociação, como ocorreu em 2024, após as enchentes.
Para o advogado Francisco Torma, especialista em agronegócio, a resolução do CMN não apresenta avanços reais. Ele afirma que as instituições financeiras já poderiam prorrogar dívidas com base nas diretrizes existentes, mediante comprovação das dificuldades do produtor. “Essa resolução não é como as do ano passado, quando foram criadas novas modalidades. Esses novos critérios só atrapalham ainda mais os processos de prorrogação”, disse.
Arlei Romeiro, diretor financeiro da Associação dos Produtores e Empresários Rurais do Rio Grande do Sul (APER), reforça que a medida do CMN é apenas paliativa. “O que resolve é a securitização. A gente precisa que este projeto tramite o mais célere possível no Congresso Nacional e vá à sanção presidencial. Só assim teremos uma solução definitiva”, afirmou.
Romeiro também denuncia que, além das perdas causadas pelas condições climáticas, produtores estão sendo prejudicados por práticas ilegais de instituições financeiras, que estariam descumprindo a legislação vigente.
As manifestações devem continuar nos próximos dias, com a promessa dos organizadores de manter a pressão até que o governo apresente uma resposta concreta às reivindicações do agro gaúcho.