O desafio de comentar sobre economia no Brasil

Bruno Sbrogio
22/04/2025 10h17 - Atualizado há 4 dias
O desafio de comentar sobre economia no Brasil
Foto: reprodução

Como primeiro artigo para o Canal Pecuarista, quero relatar uma dificuldade recorrente para quem, como eu, comenta economia há alguns anos: a complexidade de analisar o cenário econômico brasileiro. Toda profissão tem seus desafios, é claro. Mas, para o comentarista econômico tupiniquim, esses desafios vão além do domínio técnico da ciência — enfrentamos um ambiente profundamente disfuncional, que impõe barreiras à lógica econômica mais básica.

O problema está em lidar com diversos tipos de interferências externas — instabilidade jurídica, burocracia excessiva e um sistema político intervencionista e patrimonialista. Tudo isso torna ainda mais difícil a já complexa tarefa de interpretar conjunturas, avaliar indicadores e projetar cenários. O país não opera conforme princípios econômicos racionais, que ficam para segundo plano, mas seguindo uma ampla rede de interesses, que frequentemente esvaziam a eficiência econômica.

O oposto do que ocorre em economias mais avançadas. Permitam-me um exemplo: é comum ouvirmos que o agro brasileiro é o mais produtivo do mundo da porteira para dentro. De fato, nossa eficiência produtiva é incontestável. No entanto, essa competitividade se desfaz assim que a produção começa a escoar. É nesse ponto que o chamado “custo Brasil” adiciona uma pesada camada de ineficiência: uma combinação de gargalos logísticos, carga tributária excessiva e regulação disfuncional que corrói a margem do produtor.

O resultado é desastroso: o Brasil perde competitividade, o produtor perde margem, os exportadores perdem mercados — e os concorrentes menos produtivos agradecem. Da porteira para dentro, vigora a lógica da produtividade e da eficiência. Da porteira para fora, entra em cena a interferência de um ambiente antiempreendedor, que impõe regras, barreiras e tributos com o objetivo de preservar um sistema caro, oligárquico, patrimonialista e intervencionista — que extrai o máximo de suas “galinhas dos ovos de ouro” sem matá-las, mas mantendo-as permanentemente anêmicas. Eis aí o verdadeiro responsável de sermos eternamente o país do futuro.

A maioria dos analistas encara o “custo Brasil” como um problema técnico — fruto de um sistema tributário mal desenhado ou de uma burocracia ineficiente. Eu prefiro uma leitura mais crítica: trata-se de uma postura antiempreendedora, sustentada por uma elite política e por um estamento burocrático que enxergam o mercado não como um espaço livre para a inovação e geração de riqueza, mas como uma concessão pública sob seu controle. Juntos, operam mediante um sistema de permissão, no qual licenças, benefícios e flexibilidades são distribuídos conforme o grau de alinhamento e submissão à lógica do poder.

A diferença entre o custo real de produção e o preço final do produto — inflado por tributos, obstáculos logísticos e insegurança jurídica — exemplifica essa distorção. O “custo Brasil” é apenas o sintoma visível de um sistema que deixou de operar segundo a lógica econômica e passou a responder prioritariamente a interesses político-ideológicos e corporativistas. Embora o agro seja um exemplo claro, o mesmo vale para qualquer cadeia produtiva. Quanto mais complexa, mais afetada — a ponto de, muitas vezes, tornar-se inviável.

Como resposta a essa realidade, o empresariado, ao invés de expandir suas atividades com base em mérito e produtividade, é compelido a dedicar-se à articulação política, organizando-se em lobbies que buscam subsídios, incentivos fiscais, flexibilizações legais ou proteção setorial. O ambiente de negócios perde sua essência, e tende a uma lógica cada vez mais política, onde a vantagem competitiva depende mais do acesso às pessoas “certas” do que da competência produtiva. O mérito, a inovação e a eficiência perdem espaço para o compadrio, o clientelismo e os bastidores da política.

Essa dinâmica distorce os fundamentos da economia de mercado e mina a confiança de quem quer produzir. O Brasil não precisa apenas de reformas econômicas, precisa de reforma sistêmica — uma mudança nas regras e na forma que a elite trata o setor produtivo. Enquanto essa transformação não ocorrer, toda análise econômica estará prejudicada. Afinal, é impossível fazer previsões objetivas em um sistema repleto de subjetivismo, alheio a produtividade, a inovação e ao mérito. Não à toa, é comum o erro de previsões no Brasil. Aqui, quem realiza a análise precisa considerar tantas variáveis que, fatalmente, acaba distorcendo o modelo - sendo possível apontar tendências, mas muito difícil expressá-las logicamente.