Exportação de carne bovina para o Japão depende de inspeção

Barreira ocorre devido à política protecionista dos Estados Unidos

- Da Redação, com Globo Rural
25/03/2025 08h55 - Atualizado há 1 semana
Exportação de carne bovina para o Japão depende de inspeção
Foto: reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a difícil missão de iniciar o processo de liberalização do mercado japonês para a carne bovina brasileira “in natura”. O chefe do Executivo vai levar o tema ao encontro com o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, que acontece na quarta-feira, no Palácio Akasaka.

O presidente Lula está no Japão desde segunda-feira para uma visita de Estado, onde tem sido homenageado pela Casa Imperial e pelo Parlamento japonês em comemoração aos 130 anos de relações diplomáticas entre os dois países.

A negociação sobre a carne bovina brasileira ocorre em um cenário delicado do comércio mundial, impactado pelo aumento das tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos. O Japão teme que a abertura de seu mercado para o Brasil possa prejudicar as vendas de carne americana para os japoneses, o que poderia desagradar o ex-presidente Donald Trump. Durante sua visita de Estado ao Japão em 2019, Trump defendeu o consumo da carne americana nos hambúrgueres vendidos no país.

A exportação de carne bovina brasileira para o Japão é uma demanda que já se estende há pelo menos 20 anos. Segundo o ministro da Agricultura e da Pecuária, Carlos Fávaro, essa questão foi discutida durante um encontro entre Lula e representantes da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) na manhã de terça-feira (segunda-feira à noite no horário de Brasília), no hotel onde a delegação brasileira está hospedada em Tóquio.

O Brasil, líder mundial em exportação de carne bovina, ainda não conseguiu acesso ao mercado japonês, que movimenta cerca de US$ 4 bilhões anuais em importações dessa proteína. O primeiro passo para essa abertura comercial será a realização de uma missão sanitária japonesa para inspecionar frigoríficos brasileiros.

Fávaro destacou que espera ver esse avanço formalizado em um documento oficial a ser assinado durante a visita de Lula ao Japão.

“A expectativa é que a missão de inspeção sanitária japonesa vá para o Brasil ainda neste ano. O país evoluiu muito nesses vinte anos, principalmente na questão sanitária, superando desafios que eram exigências do Japão. O Brasil vai receber, no mês de maio, o status da Organização Mundial de Saúde Animal de país livre de febre aftosa sem vacinação, que era uma das exigências japonesas. Mas, independentemente disso, nós já temos cinco Estados com esse reconhecimento por parte do governo japonês, o que amplia o mercado de carne suína e possibilita o avanço para a habilitação e abertura do mercado de carne bovina. O presidente ouviu por parte dos empresários o quanto isso é importante para o Brasil, para a geração de emprego e para formar os preços da proteína animal para a nossa população brasileira”, afirmou o ministro.

Fávaro também ressaltou que Lula assumiu um compromisso pessoal para garantir que essa abertura comercial se torne realidade. O ministro lembrou ainda que, nos dois primeiros anos do governo Lula, 344 novos mercados foram abertos para os produtos agropecuários brasileiros, um recorde histórico.

“Só como exemplo, a Ucrânia deixou de produzir 40 milhões de toneladas de soja nos últimos anos e o Brasil consegue suprimento para o país. A gripe aviária tomou conta de todos os continentes e o Brasil é um dos pouquíssimos países que não tem gripe aviária. Garantimos o suprimento de quase 40% de carne de frango consumida no mundo, com qualidade, com segurança sanitária e preços muito competitivos”, acrescentou Fávaro.

A restrição à carne bovina brasileira já dura 22 anos e se mantém desde 2001, quando o governo do então primeiro-ministro Junichiro Koizumi criou um comitê de crise devido ao impacto da doença da vaca louca nas importações japonesas de alimentos. Na época, um membro da equipe admitiu que o Brasil representava, direta e indiretamente, 40% dos alimentos importados pelo Japão, o que gerou preocupações sobre a dependência de um único fornecedor. Desde então, a participação brasileira no mercado japonês tem diminuído gradativamente.

Os exportadores americanos aproveitaram essa brecha, contratando uma grande agência de publicidade no Japão para impulsionar suas vendas. Além disso, alguns analistas acreditam que as Organizações Não Governamentais australianas que atuam contra a caça de baleias pelo Japão podem ter, como objetivo indireto, impedir o consumo dessa carne, favorecendo a carne bovina australiana no mercado japonês.

 

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