Um novo fundo de investimento voltado à agricultura familiar de cacau está sendo lançado com a meta de captar R$ 1 bilhão até 2030. O Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) Kawá possui como objetivo oferecer crédito a pequenos agricultores de cacau na Bahia e no Pará, utilizando um modelo de blended finance, que combina recursos filantrópicos, capital público e investidores privados.
O projeto é fruto da parceria entre o Instituto Arapyaú, a Violet, a ONG Tabôa Fortalecimento Comunitário e a MOV Investimentos. O fundo começa suas operações com R$ 30 milhões, destinados a financiar cerca de 1.200 agricultores na primeira fase. Esse valor é quase três vezes superior ao financiamento público do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para a cultura do cacau em 2023.
"Com o Kawá, queremos ampliar a escala de impactos econômicos, sociais e ambientais positivos, atraindo investidores de maior porte para destravar modelos produtivos sustentáveis", explica Vinicius Ahmar, gerente de bioeconomia do Instituto Arapyaú.
A concessão de crédito segue uma metodologia desenvolvida pela Tabôa desde 2017, já testada na estruturação de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) Sustentável para o cacau. Entre 2020 e 2023, o CRA impactou diretamente 271 agricultores, resultando em um aumento de produtividade de 52% e crescimento de renda de 60%, com inadimplência próxima de zero.
Além do crédito, o fundo prevê assistência técnica para apoiar os agricultores. A Fundação Solidaridad, a Polímatas Soluções Agrícolas e Ambientais, a ONG Tabôa e a Violet coordenarão esse suporte, com financiamento da Suzano e participação do Consórcio Intermunicipal do Mosaico das Apas do Baixo Sul da Bahia (Ciapra).
O financiamento oferecido pelo Fiagro Kawá ainda visa incluir pequenos produtores frequentemente à margem do sistema financeiro formal. Estima-se que 85% dos produtores de cacau no Brasil tenham dificuldades de acesso ao crédito e que 75% nunca tenham recebido assistência técnica adequada. Com juros anuais de 12%, o crédito pode ser pago em até 36 meses, com seis meses de carência.
Além de apoiar a produção de cacau, o fundo planeja comercializar créditos de carbono gerados pelo incremento na produção dos sistemas agroflorestais (SAFs). A prática pode estocar até 66 toneladas de carbono por hectare — o dobro da quantidade captada pelo cacau plantado a pleno sol.
A negociação dos créditos será facilitada pela plataforma ReSeed, que já possui acordo com um investidor para a compra dos primeiros créditos gerados por cerca de cem agricultores.
