As margens mais apertadas enfrentadas pelos produtores brasileiros de grãos, especialmente aqueles que cultivam soja e milho, têm levado à devolução de terras arrendadas em diversas regiões do Brasil. A pressão nos preços das commodities tem tornado a atividade economicamente inviável em certas áreas, particularmente nas novas fronteiras agrícolas.
Fernando Pimentel, diretor da Agrosecurity, explica que muitos novos arrendamentos em áreas marginais, como regiões de fronteira agrícola e terras degradadas, não atingem a produtividade necessária para cobrir os custos. "O produtor só vai colocar dinheiro, porque sua produtividade não vai pagar a conta", afirmou Pimentel. Ele acrescenta que mesmo para produtores com áreas de melhor rendimento, os novos arrendamentos comprometem o fluxo de caixa.
As áreas arrendadas mais recentes, que ainda não atingiram seu potencial produtivo, aumentam os desafios financeiros para os produtores. A dificuldade de acesso ao crédito é maior para aqueles que dependem inteiramente de terras arrendadas. "Neste momento, não se vê uma luz no fim do túnel para os preços da soja", comentou Pimentel, destacando que a nova safra norte-americana se desenvolve bem e que uma mudança significativa no cenário de preços dependeria de problemas graves na produção dos EUA.
Com o cenário atual, a expectativa é de que os produtores brasileiros enfrentem margens de rentabilidade ainda mais estreitas. "Sob o ponto de vista econômico e financeiro, essas áreas estão inviáveis", explicou Pimentel. Ele também mencionou que a maior parte dos profissionais que produzem em terras arrendadas precisam ter condições de caixa para suportar essas áreas menos produtivas.
Nos últimos 20 anos, a área cultivada com soja no Brasil cresceu significativamente, impulsionada por melhores resultados financeiros e pela crescente demanda pela oleaginosa brasileira. De acordo com a Conab, a área nacional aumentou 115,06% entre as safras de 2003/04 e 2023/24. No entanto, a atual situação econômica se assemelha ao período de crise entre 2004/05 e 2006/07, quando a área plantada e o uso de tecnologia diminuíram.
Embora a nova safra nos Estados Unidos ainda possa trazer surpresas, as perspectivas indicam uma produção robusta, mantendo as cotações pressionadas e as margens apertadas no Brasil. A alta do dólar frente ao real melhora os preços da soja, mas também eleva os custos de produção. Com isso, a compra de insumos para a safra 2024/25 está atrasada, comprometendo o planejamento dos produtores.
Diante desse cenário, renegociações e ajustes nos valores de arrendamento são estratégias para evitar a devolução das terras. "A devolução do arrendamento é um péssimo negócio para todas as partes envolvidas", afirma Lars Schobinger, engenheiro agrônomo e CEO da Blink Inteligência Aplicada. Ele sugere a parceria rural como uma alternativa mais equitativa, permitindo ajustes nos lucros ou prejuízos de uma safra conforme as melhorias feitas na área.
Sandros Al-Alam Elias, diretor da Acres, braço imobiliário da consultoria Safras & Cifras, destaca que a falta de gestão profissionalizada é outra razão para o rompimento de contratos. No entanto, ele acredita que agricultores capitalizados podem absorver as áreas abandonadas. "O solo é um ativo seguro que gera rentabilidade tanto para quem produz quanto para quem arrenda", comenta Elias, apontando a profissionalização do agronegócio como um fator positivo para o setor.