19/04/2024 às 08h39min - Atualizada em 19/04/2024 às 08h39min

Pecuária regenerativa tem cercamento como aliado

Delimitação de áreas de pastagem ajuda a manter equilíbrio do ecossistema

André Luiz Casagrande - Da redação
Foto: reprodução
De acordo com a Organização Mundial de Meteorologia (OMM), o ano de 2023 foi o mais quente da história e, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 2024 deve seguir a mesma tendência. Temperaturas extremas, escassez de chuvas e períodos de secas prolongados são algumas das consequências das mudanças climáticas que vêm ocorrendo por causa doaumento gradual da temperatura global.

Esse aumento deve-se, principalmente, às emissões de gases de efeito estufa (GEE) e essas mudanças no ambiente têm consequências diretas na produção de alimentos, que pode sofrer reduções de produtividade, devido às intempéries climáticas.

“É um cenário preocupante em virtude do crescimento exponencial da população mundial, que chegará a 9 bilhões de pessoas até 2050, segundo as projeções da ONU, o que demandará uma ampla quantidade de alimentos, principalmente as proteínas de origem animal. para suprir as necessidades da população”, comenta a médica-veterinária, mestre e doutora em zootecnia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e analista de mercado agro da Belgo Arames, Vanessa Amorim Teixeira.

Segundo ela, em relação ao processo de produção de GEE, a agropecuária ainda é vista como vilã, apesar de suas atividades serem pioneiras no processo de mitigação de metano entérico. De acordo com a Embrapa, a pecuária brasileira está emitindo menos gás metano em razão da alta produtividade dos animais, ou seja, quanto mais se melhora geneticamente os animais e os torna mais produtivos, menor a emissão de metano entérico.

Além disso, ela cita que a pecuária é a atividade mais cobrada por sustentabilidade por utilizar os recursos naturais. Um relatório da consultoria Boston Consulting Group (BCG) aponta que, com a utilização da agricultura sustentável, soluções baseadas na natureza e do crédito de carbono e bioenergia, seria possível diminuir ainda mais as emissões – cerca de 1,83 bilhão de toneladas até 2030. “Isso sem deixar de cumprir com o papel do campo de fornecer alimentos para suprir a crescente demanda mundial”, pontua.

Cenário

Para continuar reduzindo as emissões, e ter ainda a pecuária para as futuras gerações, Vanessa argumenta que os produtores começaram a praticar o conceito de pecuária regenerativa, estratégia que visa melhorar a saúde dos solos e dos animais, bem como proteger os recursos hídricos e a biodiversidade.
“Esse sistema busca não só minimizar o impacto ambiental da produção animal, mas também promover um ecossistema mais equilibrado e sustentável. Ao adotar métodos de manejo regenerativos, os produtores rurais contribuem para a preservação dos recursos naturais, além de serem agentes mitigadores de gases da atmosfera”, explica.

Na prática, esses produtores rurais plantam culturas agrícolas em consórcio, como forrageiras e leguminosas, e depois inserem animais de múltiplas espécies (bovinos, aves e suínos, por exemplo) para pastar e aerar esse solo, tendo assim melhor aproveitamento da área. “Para alguns países que já bonificam por produtos oriundos de sistemas regenerativos,  isso é um diferencial. O principal entrave é o custo e a falta de incentivo fiscal, uma vez que o sistema regenerativo não pode ser improdutivo”, alerta.

Alternativas

A atenção com o cercamento é outra estratégia para a pecuária regenerativa ser eficiente, o que demanda atenção dos pecuaristas que devem ficar atentos, poi desempenha um papel importante na delimitação de áreas de pastagem e proteção dos ecossistemas. “Isso ajuda a controlar o movimento e o acesso dos animais, permitindo o descanso as áreas de pastagem e protegendo os recursos naturais”, destaca a veterinária.

Esse processo promove práticas sustentáveis e regenerativas e, consequentemente, melhora a saúde do solo, a biodiversidade e a resiliência dos sistemas de produção animal. O uso de telas prontas, por exemplo, simplifica o cercamento e contém múltiplas espécies, sendo de fácil instalação e, além disso, pratica-se o uso de baixo carbono por justamente não necessitar de diversos tipos de cercamentos distintos.

Outro ponto interessante é a mudança do uso da cerca tradicional de arame para a cerca elétrica. Nesse processo. também se economiza o uso de aço por se fazer uma cerca mais simples e de fácil instalação, com uma bitola menor dos fios, consequentemente menos carbono e aço utilizados, aplicando-se a prática regenerativa.

Fazer uma pecuária inclusiva e regenerativa é pensar no futuro para as próximas gerações, de modo que seja possível produzir sem abrir mão da sustentabilidade, produtividade e longevidade dos nossos processos e sistemas.

Por fim, ela avalia que a gestão é o alicerce da propriedade em qualquer sistema, pois, sem ela é, como se estivéssemos navegando sem rota, sem direção.

“Não podemos seguir sem ter uma meta, um parâmetro ou norte. Principalmente em sistemas robustos e novos com os de pecuária regenerativa. Os sistemas têm que ser produtivos e com saúde financeira, e só conseguimos ver com clareza esses dados se temos mensurações fidedignas e planejamento de curto, médio e longo prazo”, arremata Vanessa.
 

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