12/04/2024 às 08h43min - Atualizada em 12/04/2024 às 08h43min

Estudo genômico colabora para minimizar os efeitos do calor no gado de leite

André Luiz Casagrande - Da redação, com Embrapa Gado de Leite
Foto: reprodução
No começo deste mês, a Embrapa Gado de Leite (Coronel Pacheco/MG) atualizou os resultados de uma pesquisa usa genômica para enfrentar os efeitos climáticos em gado leiteiro. A iniciativa faz parte do Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG), que tem se preocupado com a tolerância dos bovinos às condições de clima, especialmente o calor excessivo, que afeta negativamente a produção.

Por essa razão, na pesquisa, os valores genômicos dos touros da raça foram preditos em função do Índice de Temperatura e Umidade (ITU), que analisa numa única variável condições de temperatura e umidade relativa do ar. Razão pela qual, os animais mais resistentes ao calor são classificados com maior valor genômico para essa característica.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora/MG), Marcos Vinícius G. B. Silva, o País perde anualmente cerca de 30% da produção leiteira por causa das altas temperaturas. “Por essa razão, o produtor precisa desenvolver rebanhos mais resistentes ao estresse térmico, e é isso que o programa de melhoramento do Girolando tem buscado oferecer por meio das avaliações genéticas e genômicas no teste de progênie da raça”, diz o pesquisador.

Silva acrescenta que, impulsionados pelas mudanças climáticas e o El Niño, dias de calor intenso têm sido comuns em todas as regiões do Brasil, em especial, no Centro-Sul, onde se concentra a maior produção de leite no País.

Para se ter uma ideia, em 2023, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou nove ondas de calor e, no dia 19 de novembro, os termômetros marcaram, em Araçuaí/ MG, 48,44°C, a temperatura mais alta verificada no Brasil.

Segundo o Silva, nessas condições, bastaria 10% de umidade relativa do ar para que uma vaca fosse submetida a estresse térmico severo, com redução na produção, problemas reprodutivos e até mesmo a morte do animal

Tolerância

O especialista menciona que há raças mais tolerantes aos efeitos do clima. “O Gir Leiteiro, que compõe a raça sintética Girolando, é bastante resistente ao calor se comparada à raça Holandesa, que também forma o Girolando. O resultado do cruzamento das duas raças é um animal resistente e produtivo”, destaca.

Durante vários anos, a Embrapa reuniu uma boa base fenotípica de animais resistentes, identificando essa característica dentro do genótipo do indivíduo. A partir daí, criou-se o PTA (medida de mérito genético do touro) para o estresse térmico, que irá resultar em vacas mais resistentes.

Segundo Silva, a pesquisa que desenvolveu esse PTA analisou 650 mil controles leiteiros. Foram colhidos dados no momento da ordenha, identificando a produção da vaca, além do ITU, obtido por meio de estações meteorológicas nos locais onde as propriedades estão localizadas.

“Utilizamos uma metodologia estatística que relaciona esses dados com os genótipos de cada uma das vacas, obtendo o potencial genético do animal”, relata Silva.

Classificação dos touros

Ela acrescenta que os touros foram classificados conforme categorias de sensibilidade ambiental, que representam o desempenho médio esperado para as filhas de cada touro nas diferentes combinações de temperatura e umidade do ar:

- Sensível +: touros cujas filhas reduzem a produção de leite em ambientes mais quentes e, ou, mais úmidos.
- Sensível - (menos): touros cujas filhas aumentam a produção em ambientes mais quentes e, ou, mais úmidos.
- Robusto: touros cujas filhas mantêm produções estáveis, independente da combinação de temperatura e umidade.

“Quando o animal está dentro de uma faixa de ITU considerada adequada, ele terá condições de expressar seu potencial genético, porém, outras condições limitantes, como nutrição, manejo e sanidade, por exemplo, devem estar em níveis adequados”, comenta o pesquisador.

Desde 2022, o Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando apresenta o PTA de touros com característica para tolerância ao estresse térmico. Naquele ano, o sumário do teste de progênie da raça já anunciava 405 touros com essa característica. Em 2023, o número subiu para 491 e, neste ano, serão 549.

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