23/02/2024 às 09h47min - Atualizada em 23/02/2024 às 09h47min

“Ganho compensatório”: vale a pena?

Técnica é utilizada durante a seca, quando não há suplementação adequada

André Luiz Casagrande
Foto: Reprodução
O ganho compensatório é um fenômeno biológico no qual animais que passaram por restrição alimentar durante algum período, e apresentam um ganho de peso médio baixo ou, até mesmo, negativo, começam a receber nível de alimentação superior.
 
“Assim, os animais passam a apresentar um ganho médio superior aos que não passaram por restrição anterior, podendo ter um peso final igualado’, explica o zootecnista e consultor técnico da Connan, Lucas Kondratovich Barbosa.
 
Segundo ele, no Brasil, esse fenômeno é comum, durante a seca, quando não há suplementação adequada em pastejo e o crescimento dos animais é comprometido, limitando o ganho de peso normal. Assim, quando o período das águas se inicia, a nutrição ideal para um crescimento normal é apresentada.
 
“Com base nesse princípio, essa técnica passou a ser utilizada de forma proposital. Assim, apesar de ganhos de peso baixos ou negativos no início, compensados por altos ganhos no final, passa a ser ‘vantajoso’ pela redução de custo com nutrição durante o período de restrição alimentar”, comenta.
 
Restrições
Atualmente, a técnica não é mais considerada uma vantagem, pois, apesar da redução nos custos com nutrição, o ganho compensatório obtido deve ser avaliado com cautela.
 
“Diferentes estudos têm mostrado que esse ganho é apresentado por mudanças nos mecanismos físicos, químicos e até mesmo fisiológico no organismo dos animais. Assim, grande parte da sua composição ocorre em forma de vísceras”, informa o zootecnista.
 
De acordo com Barbosa, durante o período de restrição, o perfil hormonal é modificado, fazendo com que órgãos metabolicamente ativos tenham seu tamanho reduzido, com o objetivo de se minimizar os gastos energéticos com o metabolismo basal.
 
“Portanto, quando há fornecimento de alimentação adequada, órgãos como fígado e trato gastrintestinal têm seus tamanhos aumentados, para se adaptar ao novo aporte nutricional e metabolismo basal”, complementa.
 
Conforme explica o especialista, o ganho apresentado durante o ganho de peso compensatório é representado em grande parte por crescimento e peso de vísceras, não se refletindo no que realmente interessa, o peso de carcaça, tornando, assim, a economia realizada na nutrição, na fase de restrição alimentar, desvantajosa e com lucros reduzidos após o abate dos animais.
 
Riscos
O zootecnista menciona que além de apresentar baixo ganho em carcaça, a  técnica de ganho compensatório pode implicar em riscos para os animais, como, por exemplo, desnutrição, deficiências nutricionais, distúrbios metabólicos e maior suscetibilidade a doenças. “Animais em restrição alimentar podem sofrer estresses, afetando o  bem-estar, o comportamento e a produtividade”, alerta.
 
Já para os pecuaristas, ele informa que ainda há o risco de desenvolvimento físico inadequado, fazendo com que esses animais tenham tamanhos reduzidos e apresentando cortes de carne de qualidade inferior.
 
“Pode, ainda, correr o risco de o ganho compensatório não ser completo, e apenas parcial, fazendo com que, na fase final, não compense as perdas ou que ocorra redução de ganhos durante a fase de restrição”, acrescenta Barbosa.
 
Como proceder
O especialista orienta que para que o pecuarista possa otimizar a produção, sem que haja o ganho compensatório, o ideal é investir na suplementação durante todas as fases produtivas dos animais: cria, recria e engorda.
 
“Durante a cria, as vacas devem receber nutrição adequada , de forma a suprir os requerimentos basal e gestacional, além de produzir quantidade e qualidade de leite ideais para que os bezerros se desenvolver de forma natural”, orienta.
 
Já durante a recria, ele afirma que a suplementação é essencial, para evitar o ganho de peso compensatório durante a terminação. “Por estarem em fase de crescimento, a nutrição adequada evita que os animais tenham desenvolvimento físico inadequado e permite que seus órgãos se desenvolvam de forma natural e ideal”, observa.
 
Outro ponto que requer atenção, segundo Barbosa, é o período de seca, quando a qualidade e quantidade de pastagem fica comprometida devido à estacionalidade da produção forrageira.
 
“Assim, o aporte nutricional necessário para a produção adequada e crescimento contínuo desses animais devem ser fornecidas por meio de suplementos adequados”, pondera o zootecnista. “O nível de suplementação depende de fatores como quantidade e qualidade de pastagem, idade e peso dos animais, planejamento produtivo, dentre outros”, completa.
 
Produção sustentável
Na avaliação do consultor, o manejo nutricional equilibrado impacta diretamente o desenvolvimento sustentável da pecuária, que depende do equilíbrio do homem, animal e ambiente e, nesse contexto, a atividade produtiva deve causar o menor impacto no ecossistema local.
 
“Para isso acontecer, a nutrição, dentre outros fatores, desempenha papel fundamental, por meio de maior eficiência produtiva, otimizando a utilização da terra, de recursos naturais e do ambiente”, arremata.

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