O Boletim 61 (12/6/2023, Ano 4), divulgado pelo Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne), já alertava sobre os efeitos do clima no Brasil e no mundo. Com o título “Para onde vai o clima nos próximos anos”, o documento escrito por cinco pesquisadores de quatro unidades da Embrapa reflete a análise de especialistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM), publicada em de maio, intitulada “Atualização Climática Global Anual à Década”.
O trabalho da OMM é uma síntese anual das previsões globais de 2023 a 2027, feita por 145 pessoas de 11 instituições internacionais. Segundo os autores, embora não seja uma previsão oficial para nenhuma região ou país, os dados do relatório servem como orientação para os órgãos e serviços meteorológicos de cada país. Veja, a seguir, a síntese das principais previsões mundiais:
O que esperar? • A temperatura média anual global para cada ano entre 2023 e 2027 está prevista para ser entre 1,1°C e 1,8°C mais alta do que a média dos anos de 1850-1900. Esse período antigo é tomado como base por datarem antes da revolução industrial, que aumentou o uso de energia de carvão e fóssil, que são grandes produtores de gases de efeito estufa.
• A chance de a temperatura global exceder 1,5°C acima dos níveis pré-industriais em pelo menos um dos anos entre 2023 e 2027 é de 66%. Mas é improvável (32% de chance) que a média de cinco anos ultrapassse esse limite.
• A chance de, pelo menos, um ano entre 2023 e 2027 exceder o ano mais quente já registrado, 2016, é muito provável (98%). A chance da média para 2023-2027 ser maior do que nos últimos cinco anos (2018-2022) também é muito provável (98%). Isso porque os últimos oito anos estão entre os dez anos mais quentes observados desde o início da série histórica.
• Prevê-se que a Oscilação Sul do El Niño (ENSO) seja provavelmente positiva entre dezembro a fevereiro de 2023/2024. S ocorrência de El Niño na maior parte de 2015 e no primeiro trimestre de 2016, contribuiu com 0,12°C na anomalia da temperatura global de 2016.
• Prevê-se que a anomalia de temperatura do Ártico, em relação à média de 1991-2020, seja mais de três vezes maior que a da média global quando calculada a média dos próximos cinco invernos prolongados do hemisfério norte. Um aquecimento maior do Ártico significa maior velocidade no descongelamento de suas geleiras que afetam o nível do mar, na alteração das correntes por mudança na salinidade, além de uma menor perda de calor pela menor contribuição do reflexo das geleiras por estarem cobrindo uma área menor.
• Os padrões de precipitação previstos para 2023 em relação à média de 1991-2020 indicam chance de chuvas reduzidas em partes da Indonésia, Amazônia e América Central. Nesse locais, onde há grande quantidade de floresta tropical, os períodos mais secos podem favorecer incêndios que resultam em mais emissão de gases de efeito estufa.
• Os padrões de precipitação previstos para a média de maio a setembro de 2023-2027, em relação à média de 1991-2020, sugerem uma chance maior de chuvas acima da média no Sahel, na África, no norte da Europa, no Alasca e ao norte da Sibéria, e chuvas reduzidas na Amazônia e em partes da Austrália. A previsão para 2023 para a Amazônia pode se estender até 2027.
• É provável que o norte da Eurásia tenha precipitação acima da média em dezembro-fevereiro em 2023-2027, tendência que já tem causado bastante prejuízo com os extremos climáticos, como a ocorrência de enchentes na Europa em 2021.
O que fazer? No caso específico da produção agropecuária, os pesquisadores brasileiros afirmam que as previsões podem ser usadas como uma alerta para se preparar para os extremos climáticos, como chuvas mais concentradas e em grandes volumes, em pouco tempo, assim como secas mais intensas e prolongadas.
Entre as sugestões para enfrentar melhor os desafios estão maior atenção com manutenção da cobertura do solo e uso de curvas de nível e terraços, para evitar erosão, além de garantir a provisão da fazenda, com reserva de alimentos, como feno e silagem.
Outra indicação para minimizar os eventos previstos pela OMM é o uso de práticas que reduzam o risco de problemas com descargas elétricas e incêndios, como a interrupção da linha de cerca e o feitio de aceiros.
Na visão da equipe do CiCarne, mesmo que os piores cenários não se confirmem, algumas práticas, como locais de sombreamento, ajudam a reduz o estresse calórico e contribuem para melhorar o bem-estar animal.
Por fim, os autores destacam a importância do seguro rural como uma alternativa para minimizar as perdas causadas por eventos climáticos.