24/08/2023 às 17h24min - Atualizada em 24/08/2023 às 17h50min
Fundecitrus: doença greening avança e atinge quase 40% dos pomares de citros em SP e MG
POR ESTADÃO CONTEÚDO
ESTADÃO CONTEÚDO
São Paulo, 24 - A incidência do greening (huanglongbing/HLB) nos pomares de citros situados entre São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro avançou de forma preocupante do ano passado para cá, crescendo de 24,42% em 2022 para 38,06% em 2023, informou nesta quinta-feira, 24, o Fundecitrus. Segundo nota da entidade, "um crescimento de 56% corresponde a aproximadamente 77,22 milhões de árvores doentes do total de 202,88 milhões de laranjeiras em todo o parque". O greening, provocado por uma bactéria inoculada nas plantas por um inseto psilídeo, é a doença mais grave da citricultura brasileira e obriga à erradicação das plantas contaminadas.
O forte avanço da doença de um ano para o outro ocorreu justamente, segundo o Fundecitrus, pela prática de se manterem árvores doentes em pomares comerciais, "principalmente nas árvores em produção, com controle insuficiente do psilídeo (inseto vetor da doença greening)", cita. A recomendação do Fundecitrus para os produtores é de que sejam realizadas pelo menos quatro inspeções por ano nos pomares, especialmente de fevereiro a setembro, e que plantas com qualquer tipo de sintoma do greening sejam erradicadas, mesmo que ainda estejam produzindo.
A manutenção de árvores doentes nos pomares "tem propiciado, ano após ano, o aumento da população de psilídeos infectivos também dentro dos pomares comerciais e, consequentemente, o aumento da incidência de greening", diz o pesquisador Renato Bassanezi, do Fundecitrus. Em 2022, lembra ele, a população de psilídeos monitorada pelo sistema de Alerta Fitossanitário do Fundecitrus foi o dobro da população de 2021, que já havia sido recorde desde 2009. "Esse aumento recorde da população de psilídeos, associado à manutenção de plantas doentes nos pomares, culminou no aumento alarmante da doença em 2023", diz.
Este é, segundo o Fundecitrus, o sexto ano consecutivo de crescimento da incidência da doença, porém foi o maior aumento em pontos porcentuais de toda série histórica, desde 2008. "É um momento bastante delicado. Estamos em uma situação em que o manejo correto será determinante para reduzir a incidência", orienta o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, na nota.
A incidência aumentou consideravelmente em todas as regiões e tamanhos de propriedades.
Segundo levantamento do Fundecitrus, as regiões com maior incidência continuam sendo Limeira (73,87%), Brotas (68,53%), Porto Ferreira (59,65%), Duartina (55,66%) e Avaré (54,79%). Entretanto, neste ano, a região de Altinópolis passou a fazer parte desse grupo com alta incidência de greening (40,60%). Dessas regiões, as de Duartina, Altinópolis, Avaré e Brotas apresentaram os maiores aumentos em pontos porcentuais em relação à incidência de 2022 (30,29; 24,64; 22,99 e 19,12 pontos, respectivamente).
Em faixa intermediária, se mantêm as regiões de São José do Rio Preto (20,54%), Bebedouro (20,37%), Matão (17,42%) e Itapetininga (11,47%). Chama a atenção, segundo o Fundecitrus, o considerável aumento em pontos porcentuais das regiões de Bebedouro e Matão (respectivamente, 12,94 e 8,9) em relação a 2022, "pois nessas regiões a doença estava se mantendo estável ou diminuindo nos últimos cinco anos". Em São José do Rio Preto e Itapetininga, o aumento foi de 6,04 e 4,32 pontos porcentuais, respectivamente. As regiões de Votuporanga (1,77%) e Triângulo Mineiro (0,35%) permanecem com menores incidências, porém em ambas as regiões foi observado aumento da doença (1,72 e 0,34 pontos porcentuais em Votuporanga e Frutal, respectivamente).
Além do fato de produtores não erradicarem plantas doentes, o Fundecitrus alerta que outro motivo que contribuiu para a ineficiência do controle do inseto psilídeo e, consequentemente, para o aumento da incidência do greening, foi o uso intensivo e seguido de inseticidas dos grupos piretroide e neonicotinoide, aos quais já há psilídeos resistentes. "A não rotação adequada de inseticidas com diferentes modos de ação, adotada por grande parte dos citricultores, levou à rápida seleção de populações do psilídeo resistentes a esses dois grupos de inseticidas e, a consequente, perda de eficácia desses produtos no campo", explica.
O Fundecitrus diz que, para reverter este quadro, é preciso que haja a interrupção do uso desses inseticidas por todos os citricultores das regiões com problema de controle por no mínimo três meses e que se adote a rotação de inseticidas de outros grupos químicos com 3 a 4 modos de ação diferentes. "A não rotação adequada de inseticidas com diferentes modos de ação, adotada por grande parte dos citricultores, levou à rápida seleção de populações do psilídeo resistentes a esses dois grupos de inseticidas e à consequente perda de eficácia desses produtos no campo", explica.
Outro fator que tem feito com que a doença se espalhe nos pomares do Sudeste, segundo o Fundecitrus, é o clima, pois, na última safra, as condições climáticas no extremo norte e noroeste paulistas foram de chuvas mais frequentes e temperaturas menos quentes na primavera e verão, favorecendo o aumento da população do inseto e a disseminação da bactéria do greening. "No extremo sul (região de Itapetininga) as chuvas em maior frequência e abundância não representaram um fator limitante para as brotações, que servem de alimento para o inseto, nem para a multiplicação da bactéria, porém as temperaturas mais baixas no outono e inverno retardam de certa forma o desenvolvimento do psilídeo. Nas regiões centro e sul, em geral, as chuvas foram mais bem distribuídas e a temperatura foram favoráveis para o psilídeo e bactéria", diz a entidade.
Em relação ao cancro cítrico, o Fundecitrus também apontou crescimento na incidência nos pomares. De acordo com o novo levantamento, a doença está presente em 19,97% das plantas, um aumento de 6,4% na incidência da doença no parque citrícola paulista e Triângulo Mineiro em relação ao ano anterior. O índice atual retoma a tendência de aumento da doença interrompida em 2021 devido à escassez de chuvas.
Já a incidência da CVC (clorose variegada dos citros) continua baixa em todo o parque citrícola. A porcentagem de plantas com sintomas da doença em 2023 (0,56%) foi menor que a verificada em 2022 (0,80%). Em 2023 a incidência corresponde a aproximadamente 1,14 milhão de um total de 202,88 milhões de laranjeiras.
Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO