Após uma manhã volátil, o dólar comercial se firma em baixa nesta terça-feira, reagindo à confirmação do tom mais duro do Copom na ata da reunião da semana passada. De olho no futuro da política monetária, investidores acompanham ainda as explicações do governo sobre a PEC dos precatórios e também a movimentação em torno da votação da PEC do voto impresso.
Às 16h14, a moeda americana cedia 0,85%, a R$ 5,2027, após mínima em R$ 5,1852.
Divulgada pela manhã, a ata do Copom retirou a menção à evolução fiscal recente mais positiva, em um momento em que o governo tenta aprovar uma reforma tributária que implica em perda de receita e também um parcelamento dos precatórios para abrir espaço para gastos com o novo programa social que o presidente Jair Bolsonaro pretende criar para substituir o Bolsa Família.
A ata confirma o tom mais inclinado à retirada de estímulos, notam estrategistas do Citi. Além da menção a uma política fiscal possivelmente mais frouxa, eles citam a menção a uma escalada da Selic até níveis acima da neutralidade e o risco de que as expectativas de inflação de médio prazo desgarrem do centro da meta, dado uma disseminação maior das pressões inflacionárias. O Citi mantém expectativa de que o BC vai elevar a Selic até 7,5% este ano e considera a ata "marginalmente positiva" para o real.
As movimentações do governo para enfraquecer o marco fiscal, por outro lado, continuam no foco. Mais cedo, o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, admitiu que o crescimento dos precatórios em 2022 consumiria todo o espaço do teto de gastos, o que inviabilizaria, entre outros gastos, o novo programa que o governo quer aprovar.
De olho em tal possibilidade e também na proposta de reforma tributária do governo, bem como nas pressões inflacionárias recentes, o Credit Suisse elevou de 7,25% para 8,25% a perspectiva para a Selic no fim do ano. O sinal mais contracionista também fez a instituição revisar para baixo a perspectiva para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem, de 2,5% para 2%.
Uma Selic mais alta eleva o diferencial de juros com o exterior e, com isso, torna o real uma moeda mais atrativa para investidores. Por outro lado, as questões fiscais e políticas - como a PEC dos precatórios e o atrito entre Poderes causado pela defesa do voto impresso -, têm pesado sobre o apetite por risco do investidor.
“Estamos vendo mais uma demonstração clara de força do real. O payroll [relatório sobre o mercado de trabalho americano] na sexta jogou para cima os juros longos americanos, o que está pesando sobre todas as moedas emergentes. A única divisa que se valoriza contra o dólar no momento é o real, graças à sua enorme desvalorização”, nota o economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Robin Brooks.