09/08/2021 às 22h00min - Atualizada em 09/08/2021 às 22h00min

Juros sobem com mau humor externo; inflação e questão fiscal seguem no radar

Refletindo temores sobre a disseminação da variante mais contagiosa da covid-19, a delta, e números piores do que o esperado da economia da China, os mercados internacionais tiveram uma sessão de enxugamento na busca por ativos de risco. Nessa esteira, os juros futuros no Brasil encerraram a segunda-feira com viés de alta, acompanhando a curva de rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos (Treasuries).

O movimento também é explicado por fatores domésticos, associados à continuidade de pressões inflacionárias à frente e à incerteza sobre a sustentabilidade das contas públicas, de olho nas discussões acerca do tamanho do novo Bolsa Família.

Finalizado o pregão regular, o juro do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 6,47% no ajuste anterior para 6,505%; o do DI para janeiro de 2023 avançou de 8,16% para 8,23%; o do contrato para janeiro de 2025 anotou alta de 9,05% para 9,13% e o do DI para janeiro de 2027 escalou de 9,40% para 9,49%.

Depois de se manterem em alta firme durante a manhã desta segunda, as taxas futuras até chegaram a ensaiar alguma acomodação e exibiram leve queda durante a tarde, após o ministro da Cidadania, João Roma, apresentar o programa Auxílio Brasil, o substituto do Bolsa Família. O alívio, porém, durou pouco e, diante da continuidade das incertezas relacionadas a como o programa se acomodará no teto de gastos e a como se dará a PEC dos Precatórios, os juros futuros voltaram a subir e encerraram o dia em alta firme ao longo de toda a curva a termo.

Em relatório enviado a clientes, os economistas do Rabobank Maurício Une e Gabriel Santos apontam que o mercado aguarda detalhes do projeto dos precatórios e, enquanto novidades do programa ainda estão sendo acertadas, os profissionais acreditam que os ruídos fiscais “certamente se agravarão, até que uma solução seja finalmente alcançada”. Quanto à crise institucional, Une e Santos apontam que “a maior tensão entre os líderes políticos azeda o ambiente para ir adiante com reformas estruturais no Congresso, deixa a volatilidade do mercado elevada e pesa no desempenho dos ativos locais”.

Com a escalada dos riscos fiscais, a curva de juros já embute em seus preços uma Selic entre 9,25% e 9,50% no fim de 2022, nível bem mais contracionista do que o observado no Boletim Focus, que aponta para o juro básico em 7,25% no fim do próximo ano, nos cálculos do estrategista-chefe da Renascença, Sérgio Goldenstein, com base no fechamento da última sexta-feira (6). Para a reunião do Copom de setembro, o mercado de opções digitais indicava 72% de chance de uma elevação de 1 ponto percentual e 20% de possibilidade de alta de 1,25 ponto.

“Caso haja deterioração do cenário fiscal que leve a maiores incertezas com relação à credibilidade do teto de gastos e à sustentabilidade da dívida pública, com consequências negativas para a taxa de câmbio e formação de expectativas inflacionárias, o BC pode se ver obrigado a apertar a política monetária para além do planejado, impondo risco de alta para nossa Selic terminal de 7,5%”, aponta o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski.

A cautela acerca da inflação corrente e do risco de desancoragem das expectativas de inflação no horizonte relevante da política monetária manteve a ponta curta da curva pressionada para cima. Pela manhã, o IGP-DI mostrou aceleração de 0,11% em junho para 1,45% em julho, acima da mediana das expectativas, de 1,14%. Preços de matérias-primas como milho e soja, que tiveram suas safras afetadas por geada e seca, puxaram a alta do indicador. Já o Focus voltou a mostrar avanço nas expectativas de inflação de 2022, que passaram de 3,81% para 3,84%.

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