10/06/2022 às 13h47min - Atualizada em 10/06/2022 às 13h47min

Carinho que rende

Não é de hoje que os cuidados com o bem-estar animal impactam diretamente a produtividade e, consequentemente, a lucratividade das atividades agropecuárias. Um exemplo é a estimulação tátil que, tanto em primíparas no pré-parto, quanto em bezerros, tem a finalidade de melhorar a relação homem-animal e promover o bem-estar do rebanho.

Na bovinocultura leiteira, a relação humano-animal é de extrema importância, por conta das rotinas do manejo (aleitamento, ordenha, alimentação, tratamento de saúde) e da proximidade que o tratador tem com o animal durante eles.

Segundo a pesquisadora do Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Lenira El Faro Zadra, a estimulação tátil vem sendo usada como uma ferramenta benéfica na interação humano-animal em diferentes fases da criação, tornando os animais mais dóceis, facilitando o manejo e diminuindo as ocorrências de acidentes.

“Só esses benefícios já justificam a adoção desse manejo pelas propriedades leiteiras, mas há outros, de grande importância, como o aumento da produtividade e a melhoria da percepção dos consumidores em relação aos tratamentos recebidos pelos animais nas fazendas produtoras de leite”, destaca a pesquisadora.

A especialista acrescenta que o carinho, no pré-parto, resulta na melhoria no temperamento, no comportamento das vacas e nos índices produtivos, permitindo uma visão maior do que seria possível alcançar via seleção genética. “Nesse projeto, tanto as dosagens de cortisol quanto de ocitocina foram medidas no leite das vacas. Isso pode permitir, no futuro, a realização de estudos em populações maiores, visando a seleção genética de animais com melhor temperamento, o que facilitaria a ordenha e o manejo nas propriedades”, explica.

No estudo do IZ, animais da raça Gir foram submetidos a dois experimentos: um deles para avaliar o efeito do treinamento de rotina de ordenha em novilhas e o outro o efeito do estímulo tátil positivo em novilhas primíparas e vacas multíparas no corredor do curral, avaliando as características de comportamento, nível de cortisol, liberação de oxitocina, expressão dos receptores chave de ejeção de leite e rendimento.

De acordo com a pesquisadora, o aumento de produção para as vacas que receberam o tratamento de estimulação tátil foi de 2kg de leite/dia. Um resultado ainda mais interessante foi que o leite retido pela vaca (ou leite residual) foi 16% nas fêmeas que não receberam o tratamento e 8,5% nas que receberam. “Isso representa mais leite para as vacas que receberam estimulação tátil e diminui a chance de ocorrência de mastite devido à retenção de leite”, afirma a pesquisadora.

Para atingir esses resultados, Lenira recomenda que é importante que o produtor tente, ao menos, melhorar a forma de tratar os animais no dia a dia, evitando bater ou realizar manejos bruscos e agressivos. “Um tratador mais agressivo não deve lidar com as fêmeas em produção, pois o estresse que o animal sofre pode causar queda na produção e na eficiência produtiva”, alerta.

“A mensagem que queremos transmitir é que tanto a estimulação tátil para novilhas prenhes e para bezerros quanto o enriquecimento ambiental podem proporcionar melhorias no comportamento dos animais e no manejo dos mesmos”, orienta Lenira. Ela acrescenta que um dos diferenciais de adoção desse processo é que o investimento é de baixo custo e o período de realização desse manejo é relativamente curto.

“Outra constatação é que passar as novilhas prenhes na sala de ordenha no pré-parto e realizar a estimulação tátil nesse local (no fosso ou na linha de ordenha) facilita o manejo e traz resultados melhores para os pequenos produtores”, finaliza a pesquisadora.


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