12/08/2022 às 11h54min - Atualizada em 12/08/2022 às 11h54min

Ferramenta ajuda frigoríficos a monitorar e rastrear a carne

Tecnologia complementar permite a visualização das cadeias de fornecimento e auxilia nas decisões de compra ou não dos animais de uma propriedade

A rastreabilidade da pecuária brasileira depende de vários desafios para avançar, tais como, aspectos culturais, geográficos, fiscais e sociais. Esse conjunto de fatores traz maior complexidade ao problema e, como consequência, não é possível encontrar uma solução simples e única para resolver essa questão, segundo Francisco Beduschi Neto, líder no Brasil da organização conservacionista americana National Wildlife Federation (NWF).

“Porém, é preciso enfrentar o fato de que consumidores brasileiros e internacionais querem saber mais sobre onde e como a carne foi produzida”, diz ele. Nesse sentido, Beduschi Neto cita o Visipec, ferramenta gratuita desenvolvida em conjunto pela NWF global em parceria com a Universidade de Wisconsin. “Essa tecnologia é voltada para os frigoríficos e se baseia em dados públicos para o monitoramento de riscos da cadeia produtiva da carne”.

“Trata-se de uma ferramenta de rastreabilidade complementar, que trabalha junto com os sistemas existentes nos frigoríficos brasileiros para melhorar a visibilidade sobre a cadeia de fornecimento de bovinos. “O objetivo é realizar o monitoramento mais eficiente dos requisitos socioambientais das propriedades que fazem parte dessa cadeia”, observa.

Segundo o líder da NWF no Brasil, o Visipec é disponibilizado através de uma Application Programming Interface (API) para se comunicar com o usuário. “API significa interface de programação de aplicação, tais como alguns exemplos que usamos em nosso dia a dia, como os mapas de rotas de transporte, que podem ser usados por diferentes usuários dentro de seus sistemas ou websites”, explica.

“Trata-se de uma solução tecnológica focada em atender uma demanda dos frigoríficos brasileiros que precisam reportar informações mais detalhadas sobre as propriedades rurais que fazem parte da sua cadeia de fornecimento. Nesse sentido, não há transmissão ou recebimento de dados individuais de pessoas físicas ou jurídicas e, assim, a ferramenta cumpre com a legislação brasileira vigente, incluindo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)”, detalha.

Beduschi Neto informa que o Visipec está pronto para aplicar os protocolos de monitoramento atualmente aceitos no mercado nacional e internacional, como, por exemplo, na Europa. “No Brasil, a ferramenta tem operado no bioma da Amazônia, com sucesso, e a NWF tem trabalhado para possibilitar o seu uso no bioma Cerrado”, conta. “A expectativa é ampliar o uso da Visipec para outros estados importantes na produção de carne bovina e ajudar a pecuária nacional a contar a sua história de sucesso para todos os consumidores”, diz.

Empecilhos à rastreabilidade

De acordo com Beduschi Neto, a rastreabilidade tem alguns desafios a serem vencidos no país. Em primeiro lugar, ele considera importante distinguir rastreabilidade de monitoramento. “No caso específico do frigorífico, rastrear é saber de onde veio e para onde foi, ou seja, é preciso identificar a propriedade onde o animal estava antes de chegar àquela que vendeu para o abate”, explica.

“Já monitorar, é um segundo processo, feito após a identificação, quando o frigorífico aplica um conjunto de critérios socioambientais para saber se a fazenda atende aos requisitos necessários”, esclarece a aponta alguns desafios a serem vencidos no país em relação à rastreabilidade. No âmbito das questões culturais, ele afirma que muitos pecuaristas não entendem de que forma as informações serão compartilhadas, como, com quem e por qual motivo não querem dar maior transparência a essas informações.

No aspecto geográfico, ele lembra que o Brasil é um país de proporções continentais, tem um rebanho de 200 milhões de cabeças espalhadas em 150 milhões de hectares, e a atividade pecuária está presente em todos os municípios do Brasil em um sistema complexo que envolve diversas fazendas antes que o animal chegue ao abate.

Além disso, no âmbito fiscal, Beduschi Neto diz que é preciso lembrar que ainda há uma parcela importante das propriedades que são de pequenos produtores (principalmente quando se fala de cria e produção de bezerros). “Muitas vezes, esses produtores têm pouco estudo e sentem-se ameaçados quando se fala em transparência e rastreabilidade”, explica.

Por fim, o líder da NWF cita outro entrave: os desafios fiscais. “Estes fazem da atividade um meio de esconder ativo financeiro na forma de gado e/ou terra para reduzir seus débitos com a Receita Federal, por isso, não querem dar maior transparência”, enfatiza e acrescenta que “a cadeia de valor deve começar, imediatamente, tomar providências para responder a essas questões para manter e ampliar o mercado consumidor”.


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