02/09/2022 às 11h14min - Atualizada em 02/09/2022 às 11h14min

Gestão animal: estratégias nutricionais auxiliam pecuaristas na fase de cria

A gestão nutricional tem papel fundamental para a atividade pecuária. Corresponde a um dos principais custos de qualquer fazenda, principalmente na recria e na terminação. Isso se acentua quando se fala de sistemas e fases mais intensivas, como na terminação, em que os gastos com a dieta correspondem até 35% do boi gordo, considerando os custos de reposição do boi magro.

“Saber direcionar os recursos adequados para cada fase e categoria em específico resulta no melhor desempenho dos animais sem gerar custos excedentes para a fazenda. Uma boa gestão significa usar os recursos nutricionais disponíveis de forma correta, elevando o lucro da fazenda”, aponta o Phd em Nutrição de Bovinos e consultor técnico beef Goiás da Trouw Nutrition, Alexandre Arantes Miszura.

O especialista acrescenta que ações mais simples, como a compra de insumos (milho, farelo de soja, ureia) e a utilização de tecnologias para a fase de cria, trazem retorno para o pecuarista. “Temos várias tecnologias nutricionais disponíveis. Pensando em produtos, desde aditivos e formulações específicas para determinada época do ano até modelos de sistemas de produção que já estão validados”, destaca Miszura.

Além disso, ele lembra que a pesquisa científica de universidades brasileiras nessa área tem evoluído constantemente, resolvendo problemas que o produtor enfrenta diariamente. 

Em relação às principais estratégias nutricionais, o especialista afirma que há diversas opções para auxiliar no desenvolvimento das atividades. “Em termos de produtos, temos a evolução dos minerais aditivados, que podem ser utilizados de forma estratégica no pico das águas, para termos pastagem de boa qualidade e oferta”, sugere.

De acordo com o especialista, as estratégias de suplementação proteica na seca, onde os animais perdiam peso antigamente, resulta em ganho de uma arroba nesse período crítico. Além disso, estratégias como a recria confinada (sequestro) estão ganhando cada vez mais adeptos, pois permite ao pecuarista confinar seus bezerros de compra ou desmama no início do período seco, retornando aos pastos no início do período chuvoso.

“Temos a vantagem de colocar até três arrobas por animal (ganhos simulando o pastejo), impactando significativamente a taxa de desfrute da fazenda, além de poder vedar os pastos no período de transição seca-águas, acelerando o período de rebrota e disponibilidade de pastagem”, informa Miszura. “Essa evolução também está presente na cria”, completa.

O consultor lembra que, atualmente, os números mostram que o Brasil tem um rebanho de aproximadamente 70 milhões de vacas, sendo que 20% já estão sendo inseminadas (inseminação artificial em tempo fixo - IATF). “Têm surgido tecnologias voltadas, especificamente, para esse período, que proporcionam melhores índices reprodutivos das fazendas”, avalia. 

Para atingir os objetivos na intensificação do processo produtivo, Miszura alerta para alguns fatores que exigem um pouco mais de atenção dos pecuaristas. “Seguindo o famoso ciclo japonês PDCA (planejar, fazer, checar e agir), uma das principais etapas de implementação em qualquer projeto pecuário é o planejamento, fase crucial em que o pecuarista precisa compreender seus gargalos, definir onde quer chegar e trabalhar nessa diferença através da definição de metas”, ensina.

Conforme explica, como todo o processo é desenvolvido e executado por pessoas, ter uma equipe competente, comprometida e capacitada faz toda a diferença entre o sucesso e o fracasso na atividade pecuária. “Desenvolver o olhar crítico no colaborador e ter o senso de dono são valores que devem ser cultivados na propriedade”, orienta.

Outro ponto destacado pelo especialista é a necessidade cada vez maior de coletar dados nas fazendas. “Como disse Peter Drucker, o guru da administração, o que pode ser medido pode ser melhorado, portanto, manter o controle de todas as métricas torna a atividade mais profissional, permitindo alinhamentos precisos e tomando decisões baseadas em dados”, argumenta.

Para Miszura, os impactos diretos e indiretos do uso dos recursos tecnológicos nas atividades pecuárias têm contribuído de forma positiva para o desenvolvimento do negócio. “A tecnologia impacta diretamente a lucratividade da fazenda. À medida que intensificamos a produção, necessitamos de um maior desembolso que deve ser visto como investimento (em pastagens e nutrição)”, argumenta.

Como exemplo, o consultor cita que na recria, a média nacional de ganho de peso do animal é de 4 arrobas por ano, com baixo investimento em nutrição e tecnologia. “À medida que utilizamos novas tecnologias e estratégias nutricionais, esses valores podem chegar até 9 arrobas por ano, aumentando significativamente a quantidade de arrobas produzidas por hectare ao ano”, destaca. 

Miszura acrescenta que, segundo levantamento da Athenagro, em 2022, uma fazenda de recria e engorda que produz cerca de 3 a 6@/ha/ano deixa um lucro de R$403 por hectare. Enquanto uma fazenda que produz de 26 a 38 arrobas por hectare ao ano, deixa um lucro R$2.162 por hectare ao ano. “Para chegar a esta marca, precisamos utilizar ferramentas e estratégias nutricionais como suplementação, recria intensiva e terminação em confinamento ou a pasto”, conclui.


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